Utilizando CCS e CBT para monitorar a qualidade do leite

Utilizando CCS e CBT para monitorar a qualidade do leite

14 de março, 2019

Escrito por Marcelo de Paula Xavier*, baseado em artigo do Prof. Dr. Marcos Veiga dos Santos.

 

Segundo o Prof. Marcos Veiga (FMVZ-USP), a partir da década de 90, houve grande interesse na utilização do leite do tanque de expansão para diagnosticar problemas de qualidade nos rebanhos leiteiros. “Esta é uma ferramenta que é utilizada em muitos países e que pode trazer informações sobre a ocorrência de problemas existentes e potenciais, como a ocorrência de resíduos de antibióticos, aumento da Contagem de Células Somáticas (CCS) e variações na Contagem Bacteriana Total (CBT)”. Não obstante, existe uma controvérsia quanto aos padrões a ser utilizados para as várias análises que podem ser feitas.

Neste contexto, foi realizado um trabalho de pesquisa nos Estados Unidos para avaliar a utilidade das análises do leite no tanque, a fim de se fazer o monitoramento do controle de mastite e da qualidade do leite. Durante dois anos, foram avaliados 149 rebanhos na Pensilvânia, fazendo-se 4 análises por rebanho - no período - que incluíram: CCS, CBT e identificação de agentes causadores de mastite. Além destas análises, realizou-se um amplo levantamento sobre as práticas de ordenha e manejo empregadas nos rebanhos, tais como:

  • Número de ordenhas/dia;
  • Tipo de equipamento utilizado;
  • Tipo de cama utilizada;
  • Procedimentos de limpeza dos equipamento;
  • Medidas de controle de mastite. 

A média da CCS dos rebanhos analisados foi de 315.000 cel/ml. Os resultados de contagem de células somáticas dos rebanhos foram divididos em três grupos principais:

  • Baixa CCS (menor que 200.000 cel/ml);
  • Média CCS (de 200.000 a 400.000 cel/ml);
  • Alta CCS (maior que 400.000 cel/ml).

O professor relata que, no estudo, "a CCS do tanque esteve diretamente relacionada com a ocorrência de bactérias estafilococcus coagulase-negativa (ECN), as quais causam uma inflamação branda e elevação da CCS". Deve-se ressaltar que a detecção das ECN no leite do tanque, bem como de outros agentes ambientais, não indica que eles têm origem exclusivamente na glândula mamária, uma vez que estes microrganismos encontram-se disseminados por todo o ambiente.

"Por outro lado, a CCS foi menor nos rebanhos com uso de camas inorgânicas (areia) em comparação com os rebanhos que utilizavam camas orgânicas. De maneira geral, a CCS do tanque apresenta baixa relação com a contagem bacteriana", nota o professor.

Importante lembrar que - em nível individual - quando a CCS está acima de 200.000 cel/ml, isto é indicativo de mastite subclínica. Porém, este é um valor muito difícil de ser atingido para o leite do tanque. "Pois para a grande maioria dos rebanhos (menos de 15% dos rebanhos encontravam-se dentro deste limite), a CCS esteve diretamente relacionada com o isolamento de agentes contagiosos causadores de mastite, como S. aureus (SA) e S. agalactiae"

A CBT média dos rebanhos analisados - que é um bom indicativo do número total de microorganismos no leite - foi de 4.300 ufc/ml, o que indica uma excelente qualidade na higiene para a produção do leite. Além disso, 50% dos rebanhos apresentaram CBT menor que 4.100 ufc/ml. Neste quesito, os rebanhos também foram divididos em três categorias:

  • Baixa CBT (menor que 5.000 ufc/ml);
  • Média CBT (de 5.000 a 10.000 ufc/ml);
  • Alta CBT (maior que 10.000 ufc/ml).

A CBT esteve positivamente relacionada à ocorrência de infecções causadas por ECN e estreptococos ambientais. Nos rebanhos que utilizavam práticas de pré e pós-dipping, as contagens bacterianas do tanque foram significativamente menores que nos rebanhos que utilizavam somente spray para a desinfecção dos tetos. Segundo o professor, a elevação da CBT está associada com as seguintes situações: falta de higiene durante a ordenha, tetos sujos antes da ordenha, deficiência na limpeza dos equipamentos e utensílios e problemas no resfriamento do leite.

O pré e pós-dipping são altamente recomendados como processos críticos para a qualidade do leite e controle de mastite. Estas medidas são utilizadas para reduzir os microrganismos existentes na extremidade do tetos, o que - por sua vez - reduz o risco de infecções intramamárias e contaminação da pele dos tetos (que é transferida para o leite). No intervalo entre as ordenhas, o contato dos tetos com solo, barro, esterco e lama causa a sua contaminação e, por isso, aumenta o risco de novas infecções. 

De acordo com o professor, o monitoramento da qualidade do leite e da ocorrência de mastite pode ser feito pelo uso da análise do leite no tanque de expansão. Além disto, a distribuição dos resultados de CCS e CBT em categorias (baixo, médio e alto) auxilia na identificação de problemas de mastite e qualidade nos rebanhos. 

Confira o artigo publicado no Journal of Dairy Science com os resultados da pesquisa: 

 

Referência: Journal of Dairy Science, v. 87, p.3561-3573, 2004.

 

*Marcelo de Paula Xavier, produtor rural, formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi presidente da Associação dos Criadores de Gado Jersey do Brasil por dois mandatos.

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