O poder de compra do leite em 2022

O poder de compra do leite em 2022

15 de junho, 2023

Escrito por Manuela Sampaio Lana, Samuel José de Magalhães Oliveira, Paulo do Carmo Martins e Alziro Vasconcelos Carneiro.

 

O ano de 2022 foi mais um período desafiador no cenário econômico mundial. Apesar do abrandamento dos impactos da pandemia da Covid-19 e da diminuição da inflação que recrudesceu no ano anterior no país, a guerra entre Rússia e Ucrânia e o conturbado cenário da eleição presidencial dificultaram o planejamento de investimentos e o gerenciamento das atividades produtivas nos mais diversos setores, inclusive na pecuária de leite.

Segundo o ICPLeite/Embrapa, o custo de produção de leite abriu o ano em tendência de alta, as de variação no quadrimestre. A partir de então, essa tendência se inverteu e a inflação acumulada no ano foi de 1%. Já a variação acumulada no preço do leite pago ao produtor mineiro foi de 16,8% em 2022, de acordo com os indicadores do Cepea- -Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada-Esalq/USP (2022).

Diante desse contexto, o poder de compra do produtor de leite foi bastante afetado e este estudo apresenta sua oscilação durante o ano de 2022. A despeito da maior variação do preço do leite no período, em relação ao custo dos insumos (ICPLeite/ Embrapa), é certo que nem sempre um valor mais alto recebido pelo litro significa melhor condição para compra de insumos e vice-versa. Essa relação pode variar a depender do insumo considerado e como o seu preço se modifica no tempo.

Para esta análise, selecionaram-se alguns insumos importantes na atividade de produção de leite, que compõem a alimentação do rebanho, que fazem parte da produção de alimentos volumosos e aqueles destinados à limpeza da ordenha. O poder de compra mensal foi obtido pela divisão do preço do insumo no mercado pelo valor recebido pelo produtor por litro de leite, valores praticados no mês em questão. Os preços desses insumos foram acompanhados mensalmente pela Embrapa Gado de Leite e os valores médios do litro de leite foram obtidos junto ao Cepea.

O poder de compra do leite teve sua pior relação no primeiro bimestre, quando era necessária maior quantidade de leite para aquisição dos insumos selecionados. Essa relação foi melhorando ao longo do semestre e julho foi o mês mais benéfico ao produtor, que precisou despender menos leite para adquirir as matérias-primas da atividade. No mês citado, o preço do leite ao produtor mineiro foi de R$ 3,61, o mais alto do período analisado, sendo preciso vender 20,44 litros de leite para comprar 50 kg de fubá, 49% a menos que no mês de janeiro, quando eram necessários 40,36 litros para adquirir o mesmo insumo (tabela 1).

EM DEZEMBRO/22, 81 LITROS DE LEITE COMPRAVAM UM SACO DE ADUBO

No encerramento do ano, seis dos oito produtos analisados apresentavam relação mais favorável ao produtor, exigindo, assim, menor volume de leite em sua troca, quando comparado a janeiro. Em relação a janeiro de 2022, observou-se que em dezembro daquele ano o poder de compra do litro de leite aumentou expressivamente para a aquisição do adubo 20:50:20 (35%), da energia elétrica (23%), do fubá (22%) e do farelo de algodão (21%).

Para o farelo de soja e para o óleo diesel, o incremento do poder de compra foi respectivamente 6% e 1%. A quantidade de leite necessária para comprar o sanitizante não variou e para adquirir o concentrado foi preciso 4% a mais de leite em dezembro – o único produto cuja relação foi desfavorável, quando equiparado ao início do ano.

A comparação da relação de troca entre o leite e alguns insumos utilizados na alimentação do rebanho e na produção de alimentos, nos meses de dezembro dos últimos quatro anos (2019 a 2022), permite verificar o seu comportamento e os impactos de acontecimentos importantes no cenário mundial, como a pandemia e a guerra ainda em curso, já que 2019 foi o ano pré-pandemia, período considerado aqui dentro da normalidade.

O adubo 20:05:20 foi o insumo que demonstrou a maior volatilidade no período. Para adquirir um saco de 50 kg deste item, eram necessários 70 litros de leite em dezembro de 2019, caindo para 52 litros em dezembro de 2020 (o melhor período para o produtor). Em dezembro de 2021, a quantia requerida de leite aumentou para 125 litros, variação de 139% em relação ao ano anterior.

Essa quantia se reduziu em dezembro de 2022, passando a necessitar de 81 litros de leite para comprar um saco do adubo. O comportamento da relação de troca do leite com o farelo de algodão foi semelhante à do adubo. Adquirir 50 kg do farelo de algodão em 2021 exigiu 53 litros de leite, 156% a mais que em 2020. Essa relação caiu para 22 litros, ou 53%, em dezembro do ano seguinte, beneficiando o produtor (gráfico 1).

Percebe-se que as relações de troca nos anos de 2020 e 2021 foram mais voláteis para os insumos analisados, exceto para o concentrado mineral, cuja relação do ano de 2019 foi a pior para o produtor, caindo no ano seguinte e se estabilizando dos períodos subsequentes.

Vários fatores contribuíram para a instabilidade verificada em 2020 e 2021, como a menor produção de fertilizantes com consequente redução de exportação, o aumento dos preços dos combustíveis, o câmbio elevado que estimulou a exportação de grãos e a alta dos fretes marítimos. Em 2022, observou-se a acomodação dessa relação, que parece estar retornando aos patamares pré-pandêmicos, com a diminuição dos custos de produção do leite e estabilização do preço pago ao produtor de leite.

Este cenário sinaliza para maior regularização da oferta de insumos, contribuindo para menor volatilidade dos preços. Esta é uma condição importante para o crescimento da produção do leite, mesmo em um ambiente de menor aumento de preços. Também é fundamental para a retomada do crescimento da oferta de lácteos e a maior estabilidade de preços para o produtor e o consumidor.

 

Fonte: Anuário Leite 2023 – Embrapa

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