Experiências com vacas de leite cruzadas nos EUA

Experiências com vacas de leite cruzadas nos EUA

23 de abril, 2019

Escrito por Kent Weigel* e Kristin Barlass**, traduzido pela Equipe do Canal do Leite. 

Mais de 50 rebanhos compartilharam suas experiências com animais cruzados das raça Jersey, Holandês e Pardo Suíço.

Por anos, o cruzamento tem sido uma ferramenta popular para o melhoramento genético de porcos, gado de corte e outras espécies de animais de produção. No entanto, o uso em vacas leiteiras tem sido mínimo, pelo menos na América do Norte, devido principalmente à vantagem da vaca Holandesa no volume de leite. A maioria das pesquisas em relação a cruzamentos nos Estados Unidos está desatualizado e estudos envolvendo as raças Holandesa, Jersey e Pardo Suíça são inexistentes. No entanto, um número crescente de produtores está experimentando o cruzamento e muitas perguntas surgiram sobre os resultados que os produtores de leite podem esperar cruzando várias raças.

Para obter algumas respostas, a Genex/CRI e a Associação Americana do Gado Jersey (AJCA) financiaram uma pesquisa sobre cruzamentos. O questionário de oito páginas foi enviado a mais de 500 produtores de leite nos EUA, os quais tinham vacas cruzadas no sistema de controle leiteiro DHI, na base de dados de fertilidade de touros do DRMS (ERCR), ou bezerros mestiços registrados em associações de raça. Cinquenta produtores retornaram dados utilizáveis (os produtores não responderam todas as perguntas). O maior número de retornos veio dos estados de Minnesota, Nova York, Wisconsin, Indiana, Iowa e Texas. Cerca de 20% desses rebanhos praticavam o pastoreio rotacionado, enquanto o restante utilizava práticas de gerenciamento mais "convencionais" (animais em sistema de confinamento).

As razões para o cruzamento, assim como as raças escolhidas, variaram de acordo com a composição genética dos rebanhos originais. Por exemplo, rebanhos não-holandeses geralmente usaram cruzamentos para melhorar a produção de leite. No entanto, o maioria dos rebanhos começou com gado holandês e quase todos usaram os cruzamentos como meio de melhorar a facilidade de parto, a fertilidade ou a longevidade.

Os rebanhos no estudo vinham cruzando por nove anos, em média, e a maioria (78%) usou touros de I.A. para os cruzamentos da primeira e demais gerações e de acasalamentos. Destes rebanhos, 41 relataram acasalamentos cruzando vacas novamente com um touro da raça pura de uma das raças parentais, como - por exemplo - a cobertura de uma vaca Jersolanda (Jersey x Holandes) com um touro puro Jersey. Enquanto isso, oito rebanhos usaram touros puros de outra raça, como a cobertura de uma vaca Jersolanda com um touro Pardo Suíço. Além disso, seis rebanhos utilizaram touros cruzados da mesma raça composta, como o acasalamento de uma vaca Jersolanda acasalada com um touro Jersolando.

Uma grande variedade de raças e cruzamentos foi representada nesses rebanhos. O cruzamento mais comum, ocorrendo em 17 rebanhos, envolveu vacas ou novilhas Holandesas acasaladas com touros da raça Jersey, enquanto 12 rebanhos acasalaram vacas ou novilhas Holandesas com touros Pardo Suíços. "Retrocruzamentos" de vacas Jersolanda com Touros Jersey, vacas Holandesas x Pardo Suíças com touros Suíços e Vacas Holandesas x Pardo Suíças com touros Holandeses ocorreram em aproximadamente meia dúzia de rebanhos cada. 

Os produtores foram solicitados a avaliar seu gado puro e mestiço em um escala de 1 (muito mais pobre do que as minhas outras vacas) a 5 (muito superior à minha outra vacas). As variáveis incluíram fertilidade, facilidade de parto, produção, componentes do leite, sobrevivência e valor de abate.

Como mostrado na tabela, os escores da taxa de concepção foram mais altos para cruzamentos envolvendo macho Jersey x fêmea Jersolanda, macho Pardo Suíço x fêmea Holandesa e cruzamentos com Jersey puros. Os escores da taxa de concepção foram mais baixos para os acasalamentos com a raça Holandesa. Com base nos resultados desta pesquisa, parece que os animais cruzados envolvendo as mães Holandesas podem ter taxas de concepção comparáveis às encontradas em acasalamentos de animais puros Jersey.

Os escores de facilidade de parto foram maiores (menos problemas) para acasalamentos envolvendo touros Jersey e novilhas de qualquer raça e foram mais baixos (mais problemas) para acasalamentos envolvendo novilhas Holandesas com touros Holandeses ou Pardo Suíços. Curiosamente, os touros Holandeses causaram mais problemas de parto em novilhas Holandesas puras do que em novilhas (menores) Jersolandas cruzadas.

Escores de sobrevivência de bezerros foram maiores para acasalamentos de machos Holandeses com fêmeas Jersey e foram mais baixos para os acasalamentos com Jersey puro. Em todos os casos, a sobrevivência de bezerros mestiços foram superiores aos bezerros Holandeses ou Jersey puros.

Como esperado, a produção de leite foi maior em Holandeses puros e menor no Jersey, com todas as outras raças e cruzas ficando no meio. Por outro lado, Jersey puro, Pardo Suiço puro e macho Jersey macho x fêmea Jersolanda cruzadas (Holandês x Jersey) tiveram as maiores porcentagens de gordura e proteína e todas as raças e cruzas tiveram teor de sólidos mais elevados do que as Holandesas puras. No entanto, vários produtores observaram que os percentuais de gordura de suas vacas mestiças eram muito superiores aos percentuais de proteína, quando comparados com as vacas Holandesas puras.

Os escores para sobrevivência funcional - ou capacidade de resistir ao descarte devido à doença, lesão ou infertilidade - foram maiores nas vacas oriundas de touros Jersey x mães Jersolanda (Jersey x Holandês), seguidos de vacas oriundas de touros Jersey x Holandês. Os escores de longevidade foram mais baixos para vacas Holandesas puras.

Os preços de abate das vacas foram mais elevados para as vacas Holandesas e paras as vacas resultantes do cruzamento de touros da raça Pardo Suíça com fêmeas Holandesas. Preços de bezerros machos foram semelhantes, com Holandês puro e bezerros Pardo Suiço x Holandês rendendo os preços mais altos, e os preços caíram com aumento dos genes de Jersey.

No geral, os animais cruzados - das raças aqui discutidas - tendem a mostrar melhor taxa de prenhez, facilidade de parto, teor de sólidos no leite e sobrevivência em relação às Holandesas puras. No entanto, o volume de leite pode ser sacrificado e os produtores tendem a ter menos receita com os animais vendidos para o abate. A maioria dos produtores (87%) que respondeu a esta pesquisa indicou que iria continuar com os cruzamentos no futuro.

Pesquisas adicionais são necessárias com relação à quantidade específica de heterose (vigor híbrido) que os produtores podem esperar para cada característica ao cruzar cada uma das principais raças leiteiras. Algumas grandes universidades dos EUA já começaram, ou vão começar em breve, estudos sobre cruzamentos em seus rebanhos experimentais, então muitas dessas questões serão respondidas nos próximos anos.

 

*Kent Weigel é professor assistente, especialista em genética e gestor de programas da Universidade de Wisconsin. Ele também é o geneticista da NAAB (Associação Nacional de Criadores de Animais).

**Kristin Barlass é representante de área da AJCA (Associação Americana do Gado Jersey), baseada na Califórnia.

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Para saber mais sobre a influência dos pais no melhoramento genético clique aqui.

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