Nota de conjuntura do mercado lácteo

Nota de conjuntura do mercado lácteo

28 de junho, 2023

 A pandemia de Covid-19 causou elevação dos preços, tanto no Brasil quanto no mercado mundial, em um processo inflacionário generalizado. No mercado global, em 2022, o preço do leite ao produtor atingiu um pico de US$ 0,63/kg em abril, com a média do ano em US$ 0,53/kg, 58% acima do patamar histórico (US$ 0,34/kg) de 2015-2020 .

No início de 2022, observou-se uma desaceleração dos preços dos derivados lácteos, impactados por uma demanda fraca e um recuo nas importações chinesas. Mas, inicialmente, esse recuo no preço dos derivados não foi acompanhado pelo preço aos produtores, que seguiu firme ao longo de 2022. Na Europa, o leite passou de US$ 0,47/kg em janeiro/22, para US$ 0,62/kg no final do ano. Mas, em alguns mercados como Nova Zelândia e Estados Unidos, as cotações ao produtor registraram recuo ao longo de 2022. Já em 2023, o que se observa é uma queda generalizada nos preços globais, com reflexos no preço ao produtor.

No primeiro quadrimestre de 2023, em razão de uma oferta de leite restrita e pela aproximação da entressafra, os preços no Brasil estiveram acima do patamar médio 2021-22 (atingindo R$ 2,90/L em abril). Porém, o movimento mais recente é de recuo nas cotações, tanto ao produtor quanto dos derivados lácteos no mercado atacadista. O início da elevação dos preços ao produtor brasileiros, em meados de 2020 (Figura 1), pode ter relação com uma série de fatores, mas especialmente relacionados ao baixo crescimento da oferta de leite no país, em razão da alta dos custos de produção.

Na média do período 2021-22, o custo real da mistura concentrada (70% milho e 30% farelo de soja) foi de R$ 2,07/kg, valor 74% maior do que a média dos seis anos anteriores, de R$ 1,19/kg. A evolução desse indicador foi similar na perspectiva do produtor mundial. No primeiro quadrimestre de 2023, o custo da mistura caiu 8%, o que tem melhorado as margens do setor. Considerando a margem do preço real líquido sobre a mistura, houve uma melhora no resultado ao produtor no início de 2023. Na média de 2021-22, esse indicador era R$ 1,95/L, mas - em abril/23 - o indicador fechou em R$ 2,32/L.

No entanto, o momento atual sinaliza para um cenário mais desafiador. Desde 2014, o Brasil convive com uma oferta de leite estagnada em um patamar próximo dos 34 milhões de toneladas. Mas, emm 2023, as importações de lácteos vêm ocorrendo em nível elevado, com um volume de 851 milhões de litros-equivalente nos cinco primeiros meses do ano. O volume importado em relação a produção nacional inspecionada está em torno de 10%, enquanto historicamente ficava próximo de 4% a 5%. Nossos maiores fornecedores de lácteos do Mercosul, por sua vez, seguiram com preços ao produtor menores que o brasileiro, em 2022, sendo 23% no Uruguai e 30% na Argentina (Figura 1).

Além disso, com custos de produção 20% menores, eles conseguem ser mais competitivos no fornecimento ao mercado brasileiro. Especificamente no caso da Argentina, essa maior competitividade está atrelada à estrutura de produção formada por fazendas com 150 vacas ou mais, produzindo quase 3 mil litros por dia em média, e escala muito superior à existente no Brasil.

Neste momento de importações elevadas, e considerando que nos próximos meses a produção de leite tende a crescer no Brasil, o cenário de sustentação das cotações fica comprometido. Embora se tenha a expectativa de alguma retomada do consumo - com a inflação mais controlada, preços dos derivados lácteos mais baixos no varejo e suportes financeiros do Governo Federal às famílias de baixa renda - não se espera uma demanda com capacidade de sustentar o aumento da disponibilidade de leite via produção e importação.

 

Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa)

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