O Setor Lácteo da Argentina

O Setor Lácteo da Argentina

31 de julho, 2023

A Argentina é um importante exportador de lácteos do Mercosul. Com cerca de 10 mil fazendas, produziu pouco mais de 11 bilhões de litros de leite em 2023. A produção total cresceu 3,3% na média dos últimos 5 anos, com superávit médio sobre o consumo de 20%. No primeiro trimestre de 2023, a produção foi de 2,5 bilhões de litros, uma redução de 0,2% em relação ao mesmo período de 2022. Segundo o CREA1, para o próximo trimestre, a expectativa é pela primeira vez nos últimos 6 anos – de uma queda de 0,5%. A projeção para o ano é de uma redução da produção entre 3,8% e 4,8% em relação à 2022.

A equipe do CREA acredita que a redução vai atingir diferentes sistemas, de forma diferente. A redução para sistemas a base de pasto é de -5% refletindo os efeitos de 3 anos consecutivos de seca devido ao La Niña para sistemas semi-confinados -1% e confinados crescimento de 3%. Mais otimista, o relatório "Dairy: World Markets, and Trade", do USDA2, projeta um crescimento da produção de leite na Argentina de 1%. Segundo o Observatório da Cadeia Leiteira Argentina (OCLA), a produção do país foi reduzida em 0,3% de janeiro a maio, em relação ao mesmo período de 2022 (Figura 1).

Ainda, segundo o USDA, na Argentina a produção de leite deve se recuperar em 2023, após as condições de clima seco no verão e outono frio impactarem a produção em 2022, que pôs fim a dois anos consecutivos de maior produção de leite. Espera-se que a produção de leite cresça 1% em 2023, refletindo um retorno às condições climáticas normais, maior disponibilidade de insumos (principalmente concentrados, fertilizantes e combustíveis para produção de rações) e investimentos em tecnologia relacionada ao conforto e práticas de criação mais eficientes, que têm tem sido fundamental para manter o crescimento da produção de leite.

A exemplo do que está acontecendo no mundo, na Argentina, a concentração da produção de leite avança a passos largos. Diante de uma inflação de mais de 100% ao ano e dos problemas climáticos que afetaram a disponibilidade de forragens, impactando os custos da alimentação, os pequenos e médios produtores têm dificuldades com seus custos de produção e podem vir a deixar a atividade. Conforme a OCLA, as fazendas de mais de 10.000 litros eram apenas 1% em 2010 e contribuíam com 5% da produção; em 2022 elas representam quase 6% e contribuem com 25% do leite do país.

Com a concentração, o tamanho das propriedades leiteiras tem crescido sistematicamente e, segundo o OCLA, a propriedade média na Argentina produz 2.938 litros/dia. O preço do leite pago aos produtores é de € 0,3712 por litro (jan-mai/2023), correspondendo à R$ 1,93/litro a uma taxa cambio de R$ 5,20/€. Em comparação, a média brasileira em maio foi de R$ 2,90/litro, segundo o CEPEA; a diferença representa 50,3%.

A produção de leite na Argentina é profissional, sendo que a indústria capta e processa mais de 93% do leite produzido. No período de 2017 a 2022, o número de vacas ordenhadas diminuiu 2,7%, chegando a 1,56 milhões de animais. A previsão do USDA para o rebanho da Argentina é de redução de 1%, em 2023, chegando a 1,53 milhões de cabeças. Enquanto o número de vacas vem sendo reduzido, a produtividade cresceu 23% no mesmo período, atingindo 7,4 mil/litros/vaca/ano. Outro item de muita relevância é a qualidade da matéria prima que tem evoluído, aumentado a competitividade da cadeia láctea argentina. A contagem bacteriana foi reduzida em 46% (2016 para 2022), conforme Figura 2 (A); e a contagem de células somáticas em 23% (2016 para 2022), conforme Figura 2 (B).

A produção de lácteos tem evoluído em função das demandas do mercado. No período de janeiro a abril, a produção de manteiga na Argentina foi reduzida em 12,0% e da queijos aumentou 5,6%. O leite em pó integral recuou 24,2%, o leite em pó desnatado 42,3% e a produção de iogurte cresceu em 3,0%. O USDA estima a produção Argentina de queijo em 535 toneladas, consumo de 450 toneladas e exportações da ordem de 90 toneladas. Para a produção de leite em pó integral, a previsão do USDA é de 255 toneladas, com consumo interno de 70 toneladas e exportação de 180 toneladas.

Os estoques de produtos lácteos decresceram para a manteiga (24,4%), para o creme de leite (29,0%), para o doce de leite (13,4%) e sobremesas lácteas (28,2%). Estoques maiores foram obtidos para o leite em pó desnatado (12,9%) e para o achocolatado (53%). O consumo de produtos lácteos na Argentina está estagnado, a exceção do consumo de queijo que teve aumento de 3,4%.

As exportações de lácteos da Argentina para o Brasil são muito importantes. Do total brasileiro, 41,8% do volume equivalente leite importado vem do vizinho, correspondendo a 53,4% do valor realizado. Conforme a Figura 3 o Brasil tem se tornado importante para o setor de lácteos da Argentina.

 

Notas

1 - CREA (Asociación Argentina de Consorcios Regionales de Experimentación Agrícola) é uma associação civil sem fins lucrativos integrada e dirigida por empresários agrícolas que se reúnem em grupos para compartilhar experiências e conhecimentos.

2 - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) é o órgão público que cuida da agropecuária americana, tendo como objetivos desenvolver e executar políticas relacionadas ao agro, apoiar os produtores rurais e promover o comércio do setor.

 

Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa)

  • Como a vaca Jersey evoluiu para se tornar um fenômeno global

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Como a vaca Jersey evoluiu para se tornar um fenômeno global

  • Últimas vacas Jersey classificadas EX-96 e EX-97 nos Estados Unidos

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Últimas vacas Jersey classificadas EX-96 e EX-97 nos Estados Unidos

  • Raça Jersey quebra a barreira das 1.000 libras de gordura nos EUA

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Raça Jersey quebra a barreira das 1.000 libras de gordura nos EUA

COMPARTILHAR

CONTEÚDOS ESPECIAIS

Proluv
Top