Como é o desempenho das raças leiteiras no pasto

Como é o desempenho das raças leiteiras no pasto

18 de maio, 2023

É verdade que a nutrição pode ajudar as vacas a suportar o estresse térmico, mas o desempenho genético está recebendo cada vez mais atenção. Embora não haja extensa pesquisa sobre as diferenças entre raças de gado para desempenho na pastagem, Ted Probert, especialista aposentado da Universidade de Missouri, observa que essas diferenças são bastante evidentes na prática.

Em um artigo de extensão, Probert explica, no entanto, que “não existe uma única vaca ideal para pastagem. As fazendas de leite que usam pastagem o fazem de maneira diferente e, portanto, a vaca ideal não será a mesma para todos os fazendas.”

Em termos de progresso genético, Probert observa que a produção de leite das vacas tem sido uma característica de seleção de alta prioridade na pecuária dos EUA. Esse foco levou a uma queda na eficiência reprodutiva ao longo dos anos (aumento do intervalo médio entre partos). Probert explica que, em sistemas baseados em pastagem, particularmente em fazendas sazonais que usam a estratégia de programar os partos para uma época do ano, a eficiência reprodutiva reduzida pode ser um grande problema.

“Nesses sistemas, é imperativo que uma grande porcentagem de vacas no rebanho retorne à ciclicidade estral e se reproduza dentro de um período que as mantenha no cronograma de parto sazonal desejado”, diz ele.

Nas raças leiteiras, as vacas Jerseys estão entre as que tem um intervalo entre partos mais curto, mas as Jerseys (entre outras raças) são animais menores que geralmente podem dissipar o calor melhor do que os de porte maior (Holandesa por exemplo. Seu desempenho no pasto é, portanto, superior.

Probert acrescenta que vacas menores (menos pesadas) também tendem a causar menos danos ao pasto, especialmente com o tempo mais úmido. Além disso, Jersey e outras raças semelhantes exibem cores de pelagem mais claras, que não absorvem a luz do sol na mesma medida que as pelagens mais escuras, mantendo as vacas muito mais frescas.

Jersey – a número um?

O gado Jersey foi desenvolvido na ilha britânica de mesmo nome, no Canal da Mancha. A vaca Jersey é pequena e, geralmente, tem uma pelagem marrom mais clara, às vezes com manchas brancas. Nos últimos anos, o número de rebanhos Jersey aumentou muito no Canadá e nos Estados Unidos, devido ao seu desempenho no pasto, maiores porcentagens de gordura e proteína no leite (ideal para produção de queijos), intervalos de parto mais curtos, facilidade de parto e outros fatores. É também uma raça altamente produtiva, com algumas vacas produzindo mais de 10 vezes seu próprio peso em leite por lactação.

Probert relata que, no Missouri, que tem uma longa temporada de pastoreio (de março a início de dezembro), os rebanhos leiteiros baseados em pastagens são compostos por cerca de 10% de Jersey, com alguns rebanhos Guernsey e Pardo Suiço. Mas, a grande maioria (80-90%) do gado leiteiro a pasto no Missouri é composto por cruzamentos de Jersey com Holandês.

Gado leiteiro mestiço

Em uma recente dissertação de mestrado, concluída na Universidade da Carolina do Norte, Jason Graham avaliou o gado leiteiro mestiço quanto à tolerância ao calor em sistemas baseados em pastagem. Ele escreve que a maior parte da seleção para tolerância ao calor se concentrou em animais puros de várias raças e, embora o cruzamento de gado leiteiro nos EUA ainda não seja tão comum, “o interesse está crescendo devido ao aumento dos sistemas de produção de leite orgânico e a pasto”.

Graham analisou o desempenho de mestiços em um sistema baseado em pastagem, em termos de resistência a perdas previstas devido ao estresse térmico. Ele descobriu que os cruzamentos de primeira geração (F1) Jersey-Holandês, particularmente aqueles com mães Jersey, eram “tão competitivos quanto os animais de raça pura Holandesa para características de rendimento de produção.”

Probert tem um aviso, no entanto, sobre a descendência F1 Jersey-Holandês. “Elas vão ter uma pelagem bem escura, que absorve mais calor. Mas, no geral, acho que muitos produtores neste estado concordam que os cruzamentos são os melhores em termos de desempenho no pasto. Jerseys seria o segundo, depois Guernsey e Pardo Suiço.

Guernsey

Como a Jersey, a Guernsey é uma vaca menor que também foi desenvolvida nas Ilhas do Canal da Mancha (assim como a raça Alderney, que agora está extinta). O leite de Guernsey é rico em sólidos e tem uma cor dourada distinta, resultante de seu alto teor de beta-caroteno (um nutriente também encontrado em frutas e vegetais como a cenoura).

A Federação Mundial de Gado Guernsey afirma que esta vaca “foi desenvolvida para produção de leite a pasto” e “é a vaca ideal para pastejo intensivo”.

Pardo suíço

Uma raça maior, e uma das mais antiga de todas as raças leiteiras, é o Pardo Suiça. Acredita-se que tenha se originado nos vales e encostas das montanhas da Suíça por volta de 4000 aC. Sua produção de leite é a segunda mais alta, atrás da Holandesa, e o seu leite tem uma proporção de gordura/proteína que resulta em queijos excelentes. Números exatos são difíceis de encontrar, mas de acordo com a Associação Americana do Pardo Suiço, a raça de vacas leiteiras com a maior população global é Pardo Suiço ou Holandes.

Ayrshire

Ayrshire é outra raça de menor porte. Ela vem das regiões montanhosas do condado de Ayr, na Escócia, mas alguns historiadores acreditam que a raça se originou na Holanda. O Ayrshire desenvolveu suas características vermelhas e brancas por volta do ano de 1800. O inspetor técnico da Ayrshire Canadá, Yves Charpentier, conta que “um bom número de criadores canadenses de Ayrshire está usando pastagens para o manejo de seus rebanhos e obtêm desempenhos e resultados muito bons.” Os animais de Ayrshire também podem pastar bem em terrenos montanhosos, como faziam seus ancestrais.

Charpentier afirma que é muito raro ver uma vaca Ayrshire com um problema no casco ou na perna. “Elas são consumidores agressivas de grama”, diz ele, “e, combinado com sua boa mobilidade, isso significa que as vacas Ayrshire são capazes de se alimentar de um grande volume dia após dia nas pastagens”.

Ele acrescenta que a Ayrshire precisa de um volume significativo de proteína em sua dieta. “Uma vez que – especialmente no início da estação de pastagem (maio e junho) – as forragens representam uma excelente fonte de proteína e melhora o desempenho da produção de leite das vacas Ayrshire.”

Canadienne

Apesar de não haver dados concretos disponíveis, é sabido que a única raça de gado leiteiro já desenvolvida no Canadá, a Canadienne, se dá muito bem em pastagens. Embora os números desta raça estejam atualmente criticamente baixos, há cerca de 150 anos, o Canadienne era a vaca leiteira mais comum no Canadá.

Os ancestrais do Canadienne chegaram da França em 1608. A cor comum de sua pelagem é preta (com um pouco de marrom a avermelhado também presente), mas elas se saem bem no pasto. Na verdade, elas foram criadas especificamente para se dar bem em terrenos acidentados, de acordo com Mario Duschesne, coordenador da Société des Éleveurs de Bovins Canadiens. Porém, sua produção de leite não é alta, como explica Duschesne. “Se você optar por mais produção, sacrificará a rusticidade. Eles são inversamente proporcionais.”

Existem 3 fazendas comerciais da raça na Provínvia do Quebec, cada uma com um rebanho leiteiro de cerca de 65 vacas. Todas têm um pequeno laticínio próprio, para processamento de queijos, ou vendem diretamente para um produtor de queijos. Há também um rebanho orgânico menor de Canadienne em Quebec e algumas outras fazendas com alguns exemplares da raça. Alguns animais Canadiennes também vivem em outras partes do Canadá e há, ainda, alguns na França.

Holandês

Embora a Holandesa seja a raça de gado leiteiro mais importante do mundo, seu grande tamanho e manchas pretas são um impedimento para um excelente desempenho no pasto. Entre todas as vacas leiteiras, geralmente, ela é considerada a pior para o desempenho na pastagem. No entanto, Probert observa que as Friesians da Nova Zelândia – intimamente relacionadas às Holandesas (nome completo Holstein Friesians) e encontrados em todo o mundo – passaram por gerações de seleção em um ambiente que prioriza baixos níveis de alimentação concentrada e parto sazonal.

“Essas vacas são menores e tendem a ganhar condição corporal mais facilmente do que suas contrapartes americanas. Elas também têm bom desempenho reprodutivo. Esses atributos fizeram aumentar o interesse no uso da genética Noezalandesa em rebanhos americanos baseados em pastagens. No entanto, as realidades de comercialização do leite na Nova Zelândia levaram à seleção do teor de sólidos do leite em relação ao volume de fluidos. Este fator deve ser considerado ao se decidir pelo uso da genética da Nova Zelândia para um programa de melhoramento. Em geral, a genética da Nova Zelândia seria melhor usada em operações sazonais de baixo consumo ou em mercados de sólidos.”

No entanto, a genética Holandesa está mudando em escala global devido a um gene em particular.

O “gene do pelo liso” da Holandesa

O “gene do pelo liso” (slick gene), como é conhecido, permite que as vacas lidem melhor com o calor por ter pelos curtos e lisos, que às vezes são brilhantes. De acordo com Stephanie Rodriguez, coordenadora de marketing da empresa de genética FutureCow, com sede na Flórida, esse gene vem sendo estudado há décadas. “O fenótipo slick foi originalmente descrito nos Estados Unidos por Tim Olson e colaboradores em gado Senepol – que se originou na ilha caribenha de St. Croix – e foi herdado como um gene único e muito dominante”, explica ela. “Desde então, o locus desse gene foi mapeado até no cromossomo 20 bovino.”

O gene está sendo usado em programas de melhoramentre em muitos países, mas é difícil definir a extensão do uso em qualquer lugar. Nos EUA, Rodriguez diz que os dados disponíveis são limitados, mas ela acredita que os produtores de leite estão se tornando mais conscientes dos benefícios do pelo liso (slick coat) e que o uso desse gene está aumentando, especialmente em estados mais quentes e úmidos.

O gene pode ter sido introduzido na Flórida (EUA), diz Rodriguez, em meados da década de 1980, quando as vacas Holandesas foram inseminados com sêmen Senepol em uma fazenda chamada Pine Valley Dairy. Rodriguez acrescenta: “De acordo com Olson e outros, em 2020, os animais com gene do pelo liso, da Universidade da Flórida, registrados na Associação Americanda da raça, derivam dos animais obtidos desse trabalho de cruzamento. Foi relatado que a progênie obtida apresenta temperaturas vaginais mais baixas e taxas de respiração menores do que as vacas Holandesas do tipo selvagem.”

 

Fonte: Dairy Global

Traduzido e adaptado pelo Canal do Leite

Disponível em: https://www.dairyglobal.net/dairy/breeding/how-do-dairy-breeds-perform-on-pasture/?utm_source=Maileon&utm_medium=email&utm_campaign=DG_FOC_2023-05-16+Fertility+and+breeding&utm_content=https%3A%2F%2Fwww.dairyglobal.net%2Fdairy%2Fbreeding%2Fhow-do-dairy-breeds-perform-on-pasture%2F&mlnt=d-obDA-2Tw0raZgzPC_tmCPwehr4OzVDsQYgjX4ZovMokscDNPeW0Q&mlnm=3-kElg_uYts&mlnl=tbQHCoweA-A&mlnc=o7beRoeU1xk&mlnch=PFGlHqzLUQ4i4pYzJvJdNQ&mlnmsg=nV-XWQxpB4xdCIR0qTF1Rw

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