Afinal o preço do leite está tão alto assim?

Afinal o preço do leite está tão alto assim?

27 de março, 2022

Escrito por Marcelo de Paula Xavier*

 

“Preço do litro do leite dispara 37% na indústria e consumidor já paga mais caro em Minas”, esse é o título de uma reportagem publicada esta semana no Jornal Hoje em Dia. Segundo a matéria, o preço do litro de leite alcançou "um patamar que tem espantado os consumidores".  

Em um primeiro momento, eu fiquei imaginando que a matéria – a qual até traz dados corretos, mostrando a alta generalizada no preço dos insumos produtivos e a subida do leite spot em Minas Gerais – só podia ter sido feita com a intenção de gerar engajamento, abusando das frases de efeito e do sensacionalismo.

Não creio que – na atual conjuntura de alta generalizada nos preços de toda a sorte de produtos nos mercados – a elevação dos lácteos cause tanto espanto assim nos consumidores. Deve, provavelmente, causar aprensão e preocupação em meio a toda crise causada pelos efeitos deletérios do "fique em casa a economia a gente vê depois", sucedida pelo caos que emerge da guerra na Europa. Porém, espanto, não, definitavamente não! 

Mais para frente, fica pior. A reportagem conta a história da professora de música Laís Natali, que está grávida de três meses e precisa consumir cálcio, mas – por ser intolerante à lactose – só pode tomar "leites específicos". Segundo o jornal, ela encontrou o produto que costuma comprar com alta de 67% (passou de R$ 4 para R$ 6,69). “Naturalmente, ele já é mais caro, mas o preço de hoje subiu acima de R$ 2 em comparação a um mês atrás....estamos repensando o consumo, trocando muito o leite por suco natural”, afirma a professora.

Fiz uma pesquisa rápida nos preços de um supermercado em Curitiba (PR). Achei 6 marcas de leite longa vida integral por uma média de R$ 5,00 / litro, sendo o mais barato a R$ 4,15. Para o leite sem lactose (que a professora afirma comprar), achei um preço médio de R$ 5,33 por litro, sendo o mais barato a R$ 4,65. Já, para os suco natuais, achei os seguintes preços médios por litro:

  • Laranja integral - R$ 10,04 (com o mais barato a R$ 5,55);
  • Uva integral - R$ 14,60 (com o mais barato a R$ 8,66).

Aqui, confesso, que mudei minha percepção sobre as intenções da reportagem. Entendo que a indústria de sucos deve ter apreciado muito o conteúdo do material. De toda forma, uma coisa é certa: se a professora trocou mesmo o leite pelos sucos naturais, ela não o fez para economizar. Pois, como visto, o leite é mais barato!

Depois a reportagem fala, ainda, sobre Edmilson Pires, o responsável pela compra de mercadorias de dois supermercados na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo o jornal, o funcionário diz que nunca presenciou um patamar de preço do leite como o atual. “Não tem quem consiga comprar”, afirma ele.

Claro que ele nunca presenciou o preço do leite nesse patamar. Simplesmente, porque estamos testemunhando o recorde histórico de preços para o leite no mercado global. E, dito assim, algum inocente desavisado poderia até pensar que os produtores devem estar auferindo margens estrondosas de lucro, ordenhando suas vacas. Ledo engano. Se colocarmos na balança a valorização do leite ao produtor vs. a alta gigantesca dos custos de produção, uma coisa é certa: produzir leite está mais difícl do que nunca. O produtor que estiver conseguindo equilbrar suas contas, está no lucro.

O jornal arremata a matéria dizendo que, de acordo com o tal funcionário, "a queda na venda do laticínio chega a 30% quando comparado às vendas de fevereiro...Quem comprava 12 caixas, compra 6 agora. Se não abaixar, vai cair mais porque não tem consumidor para isso”, diz. 

Normalmente, eu não sou de ficar fazendo este tipo de "resposta". Não obstante, a beleza dessa manhã ensolarada aqui no campo me deu uma inspiração extra. Não é a toa que a percepção do publico em geral quanto ao jornalismo dito "professional" está em queda livre. "Hoje em dia", é raro vermos matérias que não sejam enviesadas e que não tenham agendas ocultas nas suas entrelinhas. 

Sim, o preço do leite e de seus derivados subiu nas gôndolas. Sim, está difícil para as famílias menos abastadas fazerem suas compras mensais, até de itens básicos. Mas, com tudo isso, o leite ainda é a proteína animal mais barata e acessível.

Como diria Isaac Newton, se por ventura enxerguei mais longe, foi porque me apoiei no ombro de gigantes. Viva o produtor de leite, que trabalha incansavelmente para produzir o mais nobre e barato de todos os alimentos, ajudando a matar a fome do mundo!

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*Marcelo de Paula Xavier, produtor rural, formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi presidente da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil por 2 mandatos consecutivos.

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