Leite condensado: do cotidiano à celebração

Leite condensado: do cotidiano à celebração

27 de agosto, 2025

O consumo alimentar dos brasileiros reflete diferentes motivações. Entre outros fatores, de um lado, há a busca por indulgência, associada ao prazer, às memórias afetivas e à ideia de ‘eu mereço. De outro, cresce a valorização da praticidade, impulsionada por rotinas corridas e pela necessidade de escolhas econômicas.

Pesquisa da Horus Inteligência de Mercado (2023) mostra que os alimentos indulgentes ocupam mais da metade do carrinho de compras dos brasileiros: 50,7% dos itens adquiridos pertencem a essa categoria, enquanto apenas 34,4% são saudáveis e 13,8% compõem a cesta básica. Além disso, produtos indulgentes chegam a custar 26% menos do que os saudáveis, o que os torna uma “recompensa acessível” em meio a restrições orçamentárias.

Entre os símbolos máximos dessa indulgência está o leite condensado, ingrediente presente em receitas afetivas e comemorativas, que atravessa gerações e segue como curinga da confeitaria brasileira que passa a ser cada vez mais associado a momentos especiais, reforçando sua carga simbólica de celebração.

Assim, nesta edição, o Observatório do Consumidor volta a analisar o papel do leite condensado como expressão de indulgência no mercado lácteo brasileiro, e como esse movimento pode gerar reflexões e oportunidades para a indústria de laticínios.

A sazonalidade do leite condensado

A leitura do Google Trends, entre janeiro de 2022 e agosto de 2025, revela que os picos de busca pelo leite condensado se concentram de forma nítida no período do Natal, quando as receitas tradicionais ressurgem como parte dos rituais de celebração. Apresentam um leve aumento também nos meses de junho e julho, possivelmente devido às festas juninas. Esse movimento reforça a ideia de que o produto se consolida como um item de indulgência festiva, carregado de memória afetiva e significado coletivo.

Os dados de busca pelo produto no Google Trends mostram uma distribuição desigual entre os estados brasileiros. Enquanto estados do Norte e Nordeste, como Amapá, Amazonas e Maranhão, apresentam menor volume de buscas, regiões do Sudeste e Centro-oeste, como Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, lideram as pesquisas.

Esse padrão indica que o interesse pelo produto é significativamente mais alto em estados com poder aquisitivo, possivelmente refletindo tanto maior acesso à internet quanto maior participação no mercado consumidor.

O gráfico ao lado apresenta os principais assuntos relacionados ao termo leite condensado no período analisado, revelando a centralidade do produto dentro do universo dos laticínios.

O destaque absoluto é o leite como matéria prima do leite condensado, evidenciando que os consumidores hoje em dia estão mais cientes da origem dos alimentos que consomem. Em seguida, aparecem menções ao consumo: o pudim desponta como a sobremesa-símbolo do ingrediente, enquanto a palavra receita indica sua presença como item essencial em preparações culinárias caseiras. A nata também aparece, reforçando vínculos com outros derivados do leite que também têm sido usados em receitas de doces.

O que diz a ‘Nuvem de Palavras’

A análise das postagens no X entre maio e agosto de 2023 revela que o leite condensado desperta sobretudo associações de prazer e tradição, destacam-se palavras como “brigadeiro, pudim, bolo, chocolate, beijinho, doce e sorvete”, que reforçam o vínculo do consumo com o prazer, a celebração e a memória afetiva.

Ao lado desses elementos, surgem também alimentos ligados à praticidade e conveniência, como “pizza, miojo, pastel, refrigerante e empada”, que refletem rotinas cada vez mais corridas e a busca por soluções rápidas. Já os termos relacionados à saudabilidade, como “banana, morango, laranja, kiwi, aveia, granola e salada”, aparecem com menor intensidade, sugerindo que, embora estejam presentes no discurso e nas escolhas, ainda ocupam espaço reduzido frente aos alimentos indulgentes.

Conclusão

O retrato do leite condensado no Brasil mostra que ele deixou de ser apenas um ingrediente culinário para se consolidar como um marcador cultural da indulgência. Sua força simbólica mantém relevância em momentos de celebração.

Para a indústria de lácteos, compreender esse movimento é fundamental: mais do que competir por espaço no dia a dia, trata-se de reforçar a narrativa de afeto, tradição e festividade que o produto carrega. Ao valorizar esse capital simbólico, abrem-se oportunidades de inovação em embalagens, comunicação e novos usos, fixando o leite condensado no imaginário do consumidor contemporâneo.

Investir em embalagens sazonais, campanhas conectadas a datas comemorativas como Natal e festas juninas, e explorar a versatilidade do ingrediente em novas receitas ou versões funcionais pode ampliar o alcance junto a públicos diversos. Assim, o leite condensado mantém seu status de ícone cultural, ao mesmo tempo em que se reposiciona de forma inteligente no mercado contemporâneo.

 

Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa)

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