Café com Leite e..... algoritmos

Café com Leite e..... algoritmos

05 de julho, 2025

O famoso café com leite é parte do dia a dia de milhões de brasileiros. Seja no café da manhã em casa, na paradinha na padaria ou na merenda escolar, essa combinação simples carrega um valor afetivo e cultural que atravessa gerações. Mais do que um costume alimentar, ela representa dois gigantes da agropecuária nacional, com impactos que ultrapassam a nossa rotina matinal.

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, responsável por aproximadamente 30% da produção global de café verde e alcançando recordes recentes com mais de 50 milhões de sacas exportadas em 2024. No leite, somos o quarto maior produtor mundial, com 36,7 milhões de toneladas produzidas em 2023, o que representa cerca de 5% da produção global.

A força econômica desses produtos é inegável. Mas como o café e o leite se comportam no ambiente digital? O que as buscas, hashtags e postagens revelam sobre as percepções, os desejos e os hábitos de consumo dos brasileiros?

Nesta edição, o Observatório do Consumidor (OC) investiga o papel simbólico e mercadológico do café e do leite nas plataformas digitais. Afinal, o que buscamos e o que postamos não são a mesma coisa e entender isso pode trazer insights importantes para quem estuda ou atua nesses setores.

Café x Leite no Google

Na análise do Google Trends dos últimos cinco anos, o leite mantém vantagem sobre o café na maioria do tempo. Ambos os produtos apresentam uma tendência de crescimento no interesse de busca, mas o leite se destaca por uma volatilidade maior, marcada por picos específicos de atenção pública.

Esses picos geralmente refletem momentos em que o leite esteve no centro de debates na mídia, como ocorreu em 2021, com a repercussão das compras de leite condensado pelo governo, que viralizaram nas redes e impulsionaram as buscas.

Já o café apresenta um padrão mais estável ao longo do tempo, mas ganha força no final do período analisado, quando ocorre uma aproximação expressiva entre os dois termos nas buscas. Esse movimento coincide com a alta nos preços do café nos mercados nacional e internacional, o que gerou mais matérias na mídia e maior interesse do público sobre o produto.

A distribuição regional das buscas no Google revela um predomínio do leite na maioria dos estados brasileiros. Em média nacional, as buscas por leite representam 57% do total, enquanto café responde por 43%.

No entanto, dois estados fogem à regra: Espírito Santo e Distrito Federal são as únicas unidades da federação onde o interesse por café supera o por leite. No caso do Espírito Santo, isso pode estar associado à forte tradição cafeeira do estado, um dos maiores produtores de café conilon do país.

O gráfico abaixo apresenta os principais termos relacionados às buscas dos usuários do Google nos últimos 5 anos.

Os principais termos buscados relacionados tanto com café quanto com leite referem-se aos produtos e ocasiões de consumo. Interessante notar que esses termos não se alteraram no último ano. No entanto, quando se analisa os termos em que houve mais aumento de interesse nos últimos tempos, no caso do café, o aumento de buscas envolve uma mistura de assuntos: desde dúvidas sobre o preço da bebida, até referências a outros temas, como o livro Café com Deus Pai e a casa de apostas Cafebet. Já entre os termos em alta ligados ao leite, o foco está no doce de leite zero açúcar, evidenciando o desejo dos consumidores por prazer aliado à saudabilidade.

Porém, se você procurar pelos itens mais buscados hoje no Google, no caso do café, a lista dos mais procurados só engloba cafeteria. No caso do leite, a lista coincide com uma descrição de todos os derivados do leite. Portanto, observa-se que as buscas por leite estão mais centradas no universo dos laticínios e em seus desdobramentos como produto alimentar. Enquanto isso, as buscas por café são mais dispersas, abrangendo desde o alimento em si até significados simbólicos, religiosos, empresariais ou de estilo de vida.

Café x leite no Instagram

No Instagram, o comportamento do consumidor segue uma lógica diferente daquela observada no Google. Há um número significativamente maior de postagens sobre café do que sobre leite, revelando um maior apelo visual e simbólico associado à bebida nas redes sociais. As principais hashtags associadas ao café mantêm o foco em produto e ocasiões de consumo.

No caso do leite, as hashtags mais comuns no Instagram diferem significativamente das tendências observadas no Google. No Instagram, o conteúdo sobre leite está mais fragmentado, principalmente ligado à infância, maternidade e tradição, com apelo emocional. Mas, ainda pouco explorado como símbolo de estilo de vida ou aspiração visual e menos associado a momentos de consumo direto, como ocorre com o café.

Conclusão

A análise revela que leite e café têm comportamentos digitais distintos porque ocupam papéis diferentes na mente e no cotidiano do consumidor. Cada plataforma evidencia isso de forma única.

O Google, ferramenta de busca racional, concentra pesquisas sobre o leite como alimento funcional, seus derivados e questões nutricionais. Já o Instagram, rede visual e aspiracional, é dominado por imagens de café em momentos esteticamente agradáveis, rotinas “cool” e símbolos de pertencimento. Nessa lógica, o leite é mais universal, está presente no prato de todos, mas o café é mais "instagramável", funcionando como um símbolo de estilo e de tribo.

Para o setor lácteo, entender essas dinâmicas é essencial. Se o leite é forte no campo da informação, há espaço para avançar também no campo da imagem, do afeto e da experiência visual. Mostrar o leite em contextos de prazer, bem-estar e estilo – com apelo visual e narrativas inspiradoras – pode aproximá-lo do engajamento que o café já conquistou nas redes. Afinal, consumo também é emoção e comunicar bem é ir além da nutrição.

 

Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa)

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