USDA: Consolidação na pecuária de leite dos Estados Unidos

USDA: Consolidação na pecuária de leite dos Estados Unidos

O Departamento de Agricultira dos Estados Unidos (USDA) realizou um extenso trabalho de pesquisa sobre a consolidação na pecuária de leite americana. A partir deste trabalho, o USDA produziu um relatório - para ser apresentado ao congresso americano - entitulado "Consolidation in U.S. Dairy Farming".

Este relatório detalhou a contínua transformação estrutural e geográfica da produção leiteira nos EUA, identificou os fatores financeiros e produtivos que provocaram estas mudanças e avaliou as perspectivas para a continuação da consolidação do setor.

Leia abaixo os destaques do relatório do USDA.

Qual é o problema?

O fechamento de fazendas leiteiras americanas tem atraído ampla cobertura da mídia nos últimos anos. Fazendas leiteiras de pequeno e médio porte vem enfrentando problemas financeiros há algum tempo. Em 2018, os preços do leite caíram e a diferença entre as receitas com a venda de leite e os custos com a alimentação do gado diminuiu. Com uma onda de fechamento de fazendas atingindo muitos estados no Nordeste e no Centro-Oeste dos Estados Unidos (tradicionais na produção de laticínios), o número de rebanhos licenciados para a produção de leite caiu 15% entre 2017 e 2019.

Em resposta a esses desafios financeiros, o governo americano expandiu o apoio aos produtores de leite em 2018, com foco principal nas fazendas menores. Através da aprovação de duas legislações*, o congresso dos EUA reestruturou os prêmios cobrados dos agricultores e estendeu a cobertura de um importante programa federal de apoio ao setor, renomeado como Dairy Margin Coverage (DMC), e fez ajustes em outros programas relacionados ao setor de laticínios. Espera-se que essas mudanças aumentem substancialmente os gastos federais no apoio aos produtores de leite.

O que o estudo encontrou?

- Em 1987, metade de todas as vacas leiteiras dos Estados Unidos estavam em rebanhos de 80 ou mais animais e metade em rebanhos de 80 ou menos. Desde então, o tamanho médio dos rebanhos aumentou consistentemente; até 2017, o ponto médio era de 1.300 vacas. O ritmo de consolidação do setor leiteiro excede em muito o ritmo de consolidação observado na maior parte da agropecuária dos EUA.

- O Censo da Agricultura de 2017 contabilizou 54.599 fazendas com vacas leiteiras. Dessas fazendas, 30.373 eram pequenas fazendas comerciais, com 10 a 199 vacas. O número de pequenas fazendas comerciais de leite caiu substancialmente ao longo do tempo, de 47.873 uma década antes (em 2007) e de 146.685 três décadas antes (em 1987).

- Até 2017, aproximadamente 2.000 fazendas tinham rebanhos de pelo menos 1.000 vacas leiteiras e estas fazendas ordenhavam mais da metade das vacas dos EUA. Vinte e cinco anos antes, havia pouco mais de 500 fazendas deste porte, as quais ordenhavam menos de 10% das vacas. Com o passar do tempo, a produção mudou para fazendas muito maiores, geralmente com 5.000 ou mais vacas.

- Os principais estados leiteiros do Nordeste e Centro-Oeste americano tinham inúmeras pequenas fazendas comerciais de leite, enquanto a produção nos principais estados produtores do oeste girava em torno das grandes fazendas. A produção em todos os estados está mudando para operações maiores, mas o declínio de pequenas fazendas comerciais está concentrado no Centro-Oeste e no Nordeste, particularmente em quatro estados: Minnesota, Nova York, Pensilvânia e Wisconsin.

- Existem grandes incentivos de custo por trás da consolidação do setor. Fazendas maiores têm custos de produção substancialmente mais baixos, em média, do que fazendas menores. Esta vantagem de custo parece ser crescente, com fazendas de 2.000 vacas tendo custos mais baixos do que fazendas de 1.000 vacas, que – por sua vez – tem custos mais baixos que fazendas de 500 vacas.

- Algumas fazendas são rentáveis em todas as classe de tamanhos. Embora o tamanho do rebanho seja um poderoso determinante de custos e retornos, há uma grande variação de custos e retornos líquidos entre as fazendas, mesmo aquelas dentro da mesma classe de tamanho. Clima, localização, infraestrutura física e gerenciamento podem afetar o desempenho financeiro de uma fazenda de gado leiteiro.

- As fazendas leiteiras certificadas como orgânicas apresentaram retornos líquidos mais altos (por litro de leite produzido) do que as fazendas convencionais de tamanho semelhante em 2016. As fazendas orgânicas com 100 a 199 vacas apresentaram retornos líquidos positivos em média, enquanto apenas operações convencionais muito grandes de 2.000 ou mais vacas apresentaram retornos líquidos positivos em média. No entanto, existem custos significativos associados à transição da produção convencional para a orgânica.

- Muitas fazendas com retornos brutos menores que os custos totais continuarão a operar mesmo sem cobrir os custos de capital, pois seus operadores podem ter uma vida melhor com a pecuária leiteira do que com outras atividades. Portanto, a saída da pecuária de leite é um processo gradual, que se prolonga ao longo dos anos, e – portanto – a consolidação também é um processo gradual.

- O número de rebanhos leiteiros licenciados caiu mais da metade entre 2002 e 2019. A taxa de declínio acelerou em 2018–2019, mesmo com a produção de leite continuando a crescer. Esta consolidação provavelmente continuará. As finanças das fazendas leiteiras são mais favoráveis para as operações maiores e, embora haja hoje menos fazendas comerciais de leite, muitos produtores estão chegando à idade da aposentadoria. Se o número de fazendas continuar diminuindo a uma taxa de 4% ao ano, de acordo com a tendência passada, os Estados Unidos deverá ter cerca de 31.500 rebanhos leiteiros licenciados no final de 2021, ante 34.187 em 2019.

Como o estudo foi conduzido?

O estudo baseou-se nos registros das fazendas, retirados de duas fontes do Departamento de Agricultura dos EUA: o Censo Agrícola e a Pesquisa de Gerenciamento de Recursos Agrícolas (ARMS). Os registros do censo fornecem informações detalhadas sobre a estrutura e localização das fazendsa, enquanto o ARMS registra evidências censitárias suplementares e adiciona – ainda – informações sobre custos, práticas de produção e desempenho financeiro da fazenda.

O relatório também usou dados do Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas (NASS), do Serviço de Marketing Agrícola (AMS) e do Serviço de Pesquisa Econômica (ERS) do USDA para obter mais informações sobre preços do setor e tendências de produção.

 

 

Notas:

*Bipartisan Budget Act (Lei do Orçamento Bipartidário) e Agriculture Improvement Act (Lei de Melhoria da Agricultura)

 

Fonte: James M. MacDonald, Jonathan Law, and Roberto Mosheim. Consolidation in U.S. Dairy Farming, ERR-274, July 2020.

 

Tradução: Equipe Canal do Leite

 

Leia o relatório completo do USDA:

 

  • Como a vaca Jersey evoluiu para se tornar um fenômeno global

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Como a vaca Jersey evoluiu para se tornar um fenômeno global

  • Últimas vacas Jersey classificadas EX-96 e EX-97 nos Estados Unidos

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Últimas vacas Jersey classificadas EX-96 e EX-97 nos Estados Unidos

  • Raça Jersey quebra a barreira das 1.000 libras de gordura nos EUA

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Raça Jersey quebra a barreira das 1.000 libras de gordura nos EUA

COMPARTILHAR

CONTEÚDOS ESPECIAIS

Proluv
Top