Victor Breno Pedrosa


Zootecnista, Prof. Dr. de Melhoramento Animal e Estatística

vbpedrosa@uepg.br

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Quem contribui mais para o avanço genético dos rebanhos leiteiros, o touro ou a vaca?

24 de abril, 2019

Autor: Dr. Victor Breno Pedrosa*

 

O processo de melhoramento genético dos rebanhos leiteiros tem início muito antes do sêmen de um touro provado chegar na propriedade para ser utilizado ou armazenado no botijão. Essencialmente, para a formação de um touro são trabalhadas duas vias de transmissão genética por parte das centrais de inseminação artificial: os pais dos futuros touros (PT) e as mães dos futuros touros (MT). Para estes, a pressão de seleção exercida para PT é de cerca de 5% e para MT é de 2%, ou seja, apenas os 5% melhores machos serão escolhidos para a formação dos futuros tourinhos, e no caso das mães, apenas 2%. Portanto, a seleção dos pais dos futuros touros é um processo bastante intenso e rigoroso, em busca de produzir um material genético de ponta, a ser disponibilizado nas centrais.

Outra importante via genética ocorre porteira a dentro, nas próprias fazendas produtoras de leite, por meio do descarte de fêmeas, em que em média ocorre 85% da manutenção da genética já utilizada, ou seja, a pressão de seleção neste caso é muito baixa. Aqui, o principal motivo da manutenção das fêmeas de baixa produção por longos períodos de tempo no rebanho está relacionado à baixa taxa de descarte voluntário praticado, o que resulta na manutenção de animais geneticamente inferiores no rebanho. Neste contexto, percebemos que as mães dos touros estão sendo intensamente selecionadas, mas as mães das vacas, nem sempre. Ainda, sabemos que ao utilizar o sêmen de um touro altamente selecionado a possibilidade de progresso genético é muito maior do que ao utilizar um touro de repasse, que muitas vezes não tem valor genético conhecido.

Tais situações nos faz questionar: “Quem contribui mais para a formação genética do meu rebanho, o touro ou a vaca?” Rapidamente uma resposta lógica nos vem à cabeça: “o touro”, pois ele é capaz de deixar um número maior de progênies no rebanho. Com isso, o material genético do macho será distribuído e, por vezes, fixado, já que as filhas de determinado reprodutor podem permanecer por muito anos, deixando novas filhas que possuem parte do material genético daquele touro utilizado em anos anteriores.

Esse raciocínio está plenamente correto, porém, ele fazia muito mais sentido no passado do que nos dias de hoje. De alguns anos para cá, aspectos relacionados ao conhecimento e utilização do material genético das fêmeas mudaram totalmente, como a atribuição de valor genético ou genômico de fêmeas e, ainda, a disseminação do uso de biotécnicas reprodutivas como a transferência de embrião e a fertilização in vitro. No passado, conhecer o valor genético de uma novilha era privilégio de poucos, ou de quase nenhum criador. Hoje, conhecer o valor genético de uma vaca, ou mesmo de uma bezerra, está ao alcance de praticamente todos os criadores de bovinos leiteiros, seja por avaliação genética clássica, como ocorre na avaliação de fêmeas da associação da raça Holandesa no estado do Paraná, seja por intermédio da ferramenta genômica, disponibilizada por diversas empresas do setor. Assim, as mães dos touros que na linha fêmea eram as maiores responsáveis pela caracterização do potencial genético dos rebanhos, hoje dividem essa responsabilidade com as mães das vacas dos rebanhos comerciais, selecionadas pelos próprios criadores, com o auxílio das ferramentas genéticas e genômicas disponíveis no mercado.

Adicionalmente, apesar das biotécnicas reprodutivas estarem disponíveis há muitos anos, estas ainda eram pouco utilizadas, seja em razão do preço de sua aplicação, seja pelos baixos índices de retorno obtidos no passado. No entanto, atualmente estas técnicas estão cada vez mais difundidas pois os preços de aplicação melhoraram em comparação aos preços praticados no passado e um maior número de bons profissionais, que dominam estas técnicas reprodutivas, estão disponíveis no mercado.

Todos estes fatores, em conjunto ou isoladamente, contribuíram para que a genética da fêmea passasse a ter mais destaque dentro dos rebanhos leiteiros. Sabe-se, por exemplo, que alguns criadores que genotipam todas as fêmeas de seu rebanho têm pleno conhecimento das famílias que mais contribuem geneticamente para o aumento da produção de leite, sólidos, saúde e fertilidade, sendo muitas destas, com maior contribuição proveniente das linhas maternas do que das linhagens do macho. Neste sentido, estes mesmos criadores têm mais facilmente selecionado a genética das fêmeas superiores, tornando-as doadoras e, via biotécnicas reprodutivas, multiplicado essa genética superior de forma rápida em seus plantéis. Os resultados são animadores tanto para estes criadores como para a bovinocultura leiteira, que agora observa a genética da fêmea com um olhar diferente, desde a escolha das mães dos futuros tourinhos por parte das centrais em todo o mundo, como nos pequenos/médios e grandes rebanhos leiteiros do Brasil, onde o sêmen não está mais sozinho na contribuição genética das próximas gerações.

Nos encontramos no próximo mês para falarmos de um tema bastante atual, o leite A2A2. Te espero aqui na coluna de melhoramento genético do Canal do Leite. Um grande abraço.

 

*Victor Breno Pedrosa - Professor Doutor na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Possui graduação em Zootecnia, e Mestrado pela USP (Universidade de São Paulo). Tem especialização em Animal Genomics pela University of Guelph (Canadá) e Doutorado em Zootecnia pela USP (Universidade de São Paulo) e pelo Institut für Nutztiergenetik (Alemanha). É coordenador do LeMA - Laboratório de estudos em Melhoramento Animal.

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