2025: O Ano em que o Setor Leiteiro Pediu Socorro (E Não Foi Ouvido)
26 de dezembro, 2025
O ano de 2025 está chegando ao fim e, para quem vive do leite, fica a sensação de que foi longo demais. Difícil encontrar alguém na cadeia produtiva que não tenha respirado fundo mais de uma vez antes de continuar. O consumidor até encontrou preços mais baixos nas prateleiras, é verdade. Mas o que parece uma boa notícia para quem está no supermercado é, na verdade, um retrato do desequilíbrio que tomou conta do setor. Se o leite ficou mais barato, é porque alguém — quase sempre o produtor — deixou parte do seu suor sem retorno.
A verdade é que a conta não fechou. Os preços pagos ao produtor passaram o ano inteiro rodando abaixo do necessário para dar sustentabilidade ao negócio. E mesmo com os custos um pouco mais estáveis, aquela lógica simples de “vende por mais do que custa” não se aplicou para a maioria dos produtores de leite. Não há como manter equipe, investir em nutrição e genética, estruturar manejo, manter instalações adequadas e garantir bem-estar animal quando o dinheiro que entra não acompanha o que sai.
Por isso, vimos uma cena que jamais deveríamos naturalizar: produtores abandonando a atividade, rebanhos sendo vendidos às pressas, sonhos colocados em pausa. O leite, que sempre foi uma das últimas culturas a tombar diante das crises, mostrou sinal forte de alerta.
No varejo, apesar dos preços convidativos, o consumo não cresceu como se esperava. O brasileiro perdeu poder de compra, e isso se reflete na mesa: quando o dinheiro aperta, a proteína some primeiro. Cortes no cardápio chegaram também ao copo de leite das crianças. Não faltou oferta, faltou renda.
Como se não bastasse, 2025 assistiu ao crescimento expressivo das importações de lácteos do Mercosul. Produtos que chegam prontos, com vantagens competitivas que os nossos produtores não têm. Em resumo: o vizinho vende barato porque tem além de leite excedente, tem tambem "vantagens" tributarias e cambiais que tornam a competição desleal. Quando uma indústria compra leite importado, ou redes varejistas importam produtos lácteos com queijos e iogurtes, é porque está realmente mais barato e está tentando sobreviver em um mercado que se mantém atrofiado. Mas, na ponta oposta dessa balança, o produtor brasileiro sente o golpe.
O fato é que faltou política pública. Faltou colocar o leite na agenda do governo. Faltaram ações que protegessem quem garante alimento todos os dias, em praticamente todas as cidades brasileiras. O setor produtivo pediu socorro, apresentou propostas, apontou caminhos. Na prática, pouco — quase nada — aconteceu.
É importante reforçar isso: leite é economia real. É renda diária para quem vive no interior. É sanidade, é tecnologia, é emprego. É o alimento mais básico para milhões de brasileiros. Não se trata de lobby; trata-se de estratégia nacional. Se o Brasil abrir mão do seu leite, abrirá mão de muito mais do que imagina. Ficar dependente do mercado externo é muito preocupante, pois quem pagará a conta no futuro é o maior beneficiado de hoje - o consumidor brasileiro!
Por tudo isso, 2025 termina como um alerta. Um alerta duro, urgente e direto: estamos perdendo produtores. E quando se perde quem produz, o país inteiro perde junto — mesmo que isso demore a aparecer na prateleira.
Sabemos que o setor é resiliente. Resistiu a tantas intempéries que ainda acredita no amanhã. Mas qualquer cadeia, por mais forte que seja, tem limite.
Que 2026 não venha apenas com discursos otimistas. Que venha com atitude. Que se compreenda, de uma vez por todas, que soberania alimentar também se mede em litros de leite. E que segurança no campo começa dentro da porteira, não fora dela.
O produtor fez a parte dele. Falta o resto do país fazer a sua.
Mauricio Santolin – Zootecnista








































