João Ricardo Alves Pereira


Zootecnista, Doutor em Nutrição Animal e Pastagens

jricardouepg@uol.com.br

PUBLICAÇÕES

Silagem de capim

20 de abril, 2020

Escrito por Dr. João Ricardo Alves Pereira*

 

A ensilagem de capim pode ser uma alternativa viável para o pecuarista atravessar essas fases críticas do ano, onde a falta de pasto é inevitável ou mesmo em sistemas de exploração que trabalham com maiores taxas de lotação. Nesse sentido, a ensilagem de capim tem sido uma prática bastante utilizada por ter dentre suas vantagens elevadas produtividades por área.

As forrageiras tropicais, de modo geral, são bastante utilizadas. Espécies como as Braquiárias (Marandú; Decumbens); Panicuns (Tanzânia, Tobiatã, Mombaça); Cynodons (Coast Cross, Estrela e Tifton) e os Pennisetum (Napier, Elefante, Cameroom) têm uma grande capacidade de resposta às adubações nitrogenadas, podendo atingir produtividades de até 50 toneladas matéria-seca/ hectare/ ano. 

O momento ideal de corte é quando as plantas apresentam teores de matéria seca próximos ou acima de 20%. Se cortado mais cedo, embora apresente maiores teores de nutrientes, como a proteína, a umidade elevada acarreta a produção de efluentes (chorume) que carreiam grandes quantidades de nutrientes e favorece o crescimento de bactérias do gênero clostridium, que são prejudiciais a fermentação. Por outro lado, a colheita do capim mais seco implica em menor disponibilidade de nutrientes e maior teor de fibra na silagem, que poderá reduzir seu consumo.

No quadro a seguir são propostas algumas idades de corte para ensilagem, para algumas espécies de gramíneas tropicais cultivadas sob manejo agronômico adequado (podendo variar em diferentes regiões).

 

 Ponto de colheita de algumas forrageiras tropicais para confecção de silagem.

Espécie

Primeiro corte

Cortes subsequentes

Panicum sp.

80-90 dias

45 a 55 dias após rebrote

Capim-elefante

90-100 dias

60 a 70 dias após rebrote

Cynodon sp.

45-55 dias

30-35 dias após rebrote

Brachiaria sp.

70-80 dias

50 dias após rebrote

 Fonte: ensilagem.com.br

 

Nestes pontos de colheita a forragem se encontra com menor teor de umidade e concentração de nutrientes satisfatória. Porém, para produção de silagem de melhor qualidade se faz necessário o uso de produtos absorventes para o controle do excesso de umidade.

Dentre as alternativas para se melhorar a fermentação pode-se fazer uso de fonte de açúcares, utilizando-se principalmente o melaço, e a inclusão de aditivos absorventes com a finalidade de elevar o teor de matéria seca da silagem. Para esta finalidade recomenda-se, no momento da ensilagem,  em torno de 10 a 20% da massa ensilada de materiais secos (produtos que possuem acima de 85% de matéria seca). Podem ser empregados produtos como polpa cítrica, casca de soja, milho moído ou outro produto adequado a alimentação animal e isento de toxinas e impurezas. É essencial que a mistura do aditivo com a forragem seja muito bem feita, evitando-se camadas exclusivas do produto ou pontos de diferente umidade na silagem. Aditivos, como inoculantes bacterianos, podem ser aplicados durante o processo de ensilagem. A eficiência do uso desses produtos depende da qualidade do produto ensilado, da boa condução em todas as etapas do processo e de orientação técnica especializada.

As máquinas forrageiras produzidas no Brasil estão em constante evolução, de maneira que os sistemas de produção que as utilizam passaram a ter maior confiança na tecnologia. Novos projetos técnicos vêm trazendo maior desempenho para maquinas acopladas a tratores, principalmente no tocante à uniformidade da forragem picada, que favorece fermentação no interior do silo e a distribuição da silagem no cocho, minimizando perdas e aumentando o consumo pelos animais.

O tamanho de partícula deve ser monitorado durante todo o processo de colheita com o uso do conjunto de peneiras “Penn State Particle Size Separator”. Partículas de tamanho maior dificultam a compactação impedindo a expulsão do ar (oxigênio) provocando aumento da temperatura da massa e consumo de carboidratos solúveis. A redução extrema no tamanho de partícula pode promover maior consumo pelos animais, devido ao aumento na taxa de passagem, porém pode ser prejudicial ao maior aproveitamento da fibra. O capim para ensilagem pode ser colhido com maior tamanho de partícula quando o produtor tem um mixer (misturador de TMR) que permite a repicagem da forragem de modo uniforme.

O fechamento do silo deve ser rápido, estabelecendo condições de anaerobiose (ausência de oxigênio) o mais rápido possível e cessando o processo de respiração (presença de oxigênio), caracterizado pelo aquecimento da silagem, que diminui a disponibilidade da proteína e consome energia, na geração de calor, que deixará de ser aproveitada pelos animais.

A compactação deve ser feita de maneira exaustiva durante todo o período de enchimento. Recomenda-se que a forragem seja distribuída em camadas finas após cada descarga e o silo enchido no sentido “rampado” para diminuir a camada exposta ao ar. O fechamento do silo deve ser feito com lona plástica adequada, com maior espessura e com “protetor” da ação do sol.

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*Dr. João Ricardo Alves Pereira - Professor Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens pela ESALQ/USP e Doutorado em Zootecnia pela UNESP/Jaboticabal. É palestrante e consultor de empresas nas áreas de conservação de forragens e nutrição animal, ganhador do Prêmio Impacto 2012 Milkpoint, técnico do ano no Troféu Agroleite 2016.

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