Solução revolucionária para controle da mastite sem antibióticos

Solução revolucionária para controle da mastite sem antibióticos

22 de novembro, 2025

Cientistas divulgaram recentemente uma pesquisa que busca oferecer “uma classe alternativa de compostos antimicrobianos potentes que poderá ser usada na pecuária para combater bactérias multirresistentes”, afirma a professora Mary Chan, uma das co-líderes do estudo da Escola de Química, Engenharia Química e Biotecnologia da Nanyang Technological University (de Singapura).

Os novos compostos, chamados de ácidos oligoimidazólicos carbônicos (OIMs), foram inicialmente desenvolvidos para combater bactérias resistentes a antibióticos que causam mastite. Chan – pesquisadora principal do grupo interdisciplinar de Resistência Antimicrobiana (AMR) da Singapore-MIT Alliance for Research and Technology (SMART) – explicou que os compostos foram concebidos como um pós-dipping preventivo após a ordenha, reduzindo de forma eficaz o risco de infecção no úbere antes que as bactérias se estabeleçam.

Testes em fazenda

Em uma fazenda leiteira com vacas Holandesas, a equipe de pesquisa testou os OIMs como um desinfetante pós-dipping em um ensaio preliminar. Segundo os pesquisadores, as vacas cujos tetos foram imersos nos compostos não desenvolveram infecções no úbere ao longo do tempo, apesar da exposição às bactérias. Eles descobriram que os OIMs matam as bactérias convertendo partes dos compostos em estruturas chamadas carbenos, permitindo que atravessem rapidamente as membranas protetoras das bactérias e danifiquem seu DNA. Como esse método é muito eficaz contra bactérias como S. aureus, doses menores de OIMs são necessárias.

Os cientistas destacam que o ensaio também mostrou que os compostos são facilmente removidos e lavados, sem deixar resíduos detectáveis. O estudo indicou ainda que eles não causam qualquer impacto na produção, qualidade ou segurança do leite. Além disso, não houve sinais de irritação na pele nem efeitos negativos no comportamento dos animais – por exemplo, as vacas não ficaram inquietas nem deram coices, sinais típicos de coceira ou irritação, acrescentaram os pesquisadores.

No entanto, Chan observou: “Um dos desafios foi adaptar nosso protótipo inicial desenvolvido em laboratório para as condições reais de fazenda, garantindo praticidade e facilidade de uso para os produtores – uma etapa essencial no processo de desenvolvimento do produto.”

Isso será mais investigado, à medida que os cientistas ampliam seus estudos para avaliar o uso prolongado em fazendas e reforçar a comprovação de segurança e confiabilidade.

Mastite e impacto econômico

Os efeitos da mastite podem ser devastadores, espalhando-se pelas fazendas e causando grandes prejuízos econômicos. Estima-se que a doença custe ao setor bilhões por ano devido à queda na produção de leite. Embora ainda seja cedo para estimar valores exatos para a nova tecnologia, Chan mencionou que prevenir a mastite pode reduzir significativamente os custos veterinários, diminuir a perda de leite por descarte e melhorar o rendimento total do rebanho.

“Hoje, os produtores perdem cerca de US$ 147 por vaca por ano devido à proteção insuficiente contra a doença, o que evidencia o potencial econômico de melhores produtos de prevenção”, afirmou ela.

Além de reduzir custos e aliviar a carga financeira dos produtores, os novos compostos oferecem ainda uma vantagem sustentável. “Os OIMs são biodegradáveis e se decompõem em moléculas naturais, que não são tóxicas nem poluentes. Por isso, esperamos que sejam mais ambientalmente amigáveis”, explicou o Dr. Kaixi Zhang, pesquisador da SMART AMR e coautor do estudo.

Escalonamento e estudos futuros

Após resultados positivos em laboratório e no campo, já estão em andamento planos para colaborar com parceiros da indústria a fim de ampliar a produção e realizar testes maiores com bovinos leiteiros. O objetivo é comercializar os compostos antimicrobianos e levá-los ao mercado. Segundo os cientistas, os OIMs estão sendo comercializados por meio de uma empresa “spin-off”, e um grande ensaio começou em Malaca, na Malásia, para otimizar os compostos. O interesse internacional está crescendo, e empresas do agro da Austrália, Bélgica, Malásia e Nova Zelândia estão explorando seu uso comercial para prevenir e possivelmente tratar mastite bovina.

Os testes maiores, que ocorrerão nos próximos seis meses, também irão refinar a dosagem ideal dos compostos. “Estamos trabalhando de perto com parceiros da indústria para avançar no desenvolvimento e esperamos ver os compostos avançarem para uso comercial assim que os testes ampliados e as aprovações forem concluídos com sucesso”, acrescentou Chan.

E quanto a outras espécies?

A professora Chan afirma que já existem planos para uso em outras espécies, como aves e suínos.

“Estamos explorando aplicações mais amplas em outras espécies de produção animal, incluindo aves e suínos, já que o mecanismo de ação bactericida dos compostos é amplamente eficaz mesmo na presença de matéria orgânica típica dos diferentes ambientes de produção”, disse Chan, destacando que os compostos representam uma mudança de paradigma e oferecem uma alternativa mais sustentável aos antissépticos tradicionais. “Eles têm potencial para transformar as práticas de prevenção da mastite, assim como outros setores pecuários”, concluiu.

Os cientistas foram liderados pela Nanyang Technological University de Singapura (NTU Singapore), em colaboração com o grupo interdisciplinar de Resistência Antimicrobiana da Singapore-MIT Alliance for Research and Technology (SMART), braço de pesquisa do Massachusetts Institute of Technology (MIT) em Singapura. Os resultados foram publicados recentemente na revista científica Nature Communications.

 

Fonte: Dairy Global

Disponível em: www.dairyglobal.net/health-and-nutrition/health/game-changing-mastitis-solution-without-antibiotics/

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