Processo de sucessão deve começar o quanto antes, orienta consultora

Processo de sucessão deve começar o quanto antes, orienta consultora

17 de julho, 2022

É inevitável. Um dia o peso da idade chega e junto a necessidade de passar adiante as conquistas e aprendizados profissionais, frutos de muitos anos de dedicação e trabalho. Essa é a realidade em muitas famílias de produtores rurais espalhadas em todos os cantos do Brasil, para as quais a continuidade dos negócios acontece por meio da sucessão familiar. O processo sucessório é longo, requer disciplina, mas acima de tudo exige muita vontade de ensinar e aprender.

Para Mariely Biff, palestrante e consultora em sucessão e governança familiar, a sucessão não se resume somente na transferência de patrimônio, mas principalmente na transmissão de conhecimento. “A sucessão familiar é um processo gradativo de construção, e entender do negócio para poder colaborar é muito importante”, afirma.

A transição sucessória começa a acontecer ainda na infância, de maneira natural, com ensinamentos repassados de pai para filho no dia a dia da fazenda. Entretanto, chega um momento em que a sucessão familiar precisa ser estipulada como meta e profissionalismo, afinal, o processo não envolve somente a família. Há, em muitos casos, os colaboradores, técnicos e outras pessoas que integram e desenvolvem as atividades na propriedade. “Esses profissionais precisam compreender como funciona o processo para que o mesmo ocorra de forma harmoniosa e sem conflitos em ralação a autonomia de cada membros da família nessa fase de transferência de poder”, destaca a consultora.

A profissional afirma que a sucessão familiar é um tema delicado, pois em alguns casos pode afetar a autoestima de quem será substituído, mas, segundo ela, é preciso que a transição ocorra de maneira conjunta e com a colaboração de todos os envolvidos. “É importante que as duas gerações interajam e compartilhem os conhecimentos para implementar os negócios da família”, ressalta.

Conforme Mariely, mesmo quando não há interesse por parte do herdeiro em ser o sucessor, é preciso que ele conheça os resultados, investimentos e as políticas que regem o negócio, inclusive, se os sucessores resolverem arrendar ou vender a fazenda. “Ainda que a pessoa não esteja envolvida na dinâmica da gestão, ela precisa compreender como funciona, até mesmo para opinar quando for necessário”, pontua.

A escolha de quem será o responsável pela gestão dos negócios da família quando existem vários candidatos ao papel é outro fator que pode gerar conflito na transição familiar. Conforme a consultora, geralmente a pessoa escolhida não tem experiência para assumir o cargo e trazer resultados positivos para o negócio. “Às vezes os pais cobram muito dos filhos, mas não os ensinam como deveriam fazer”, aponta.

De acordo com Mariely, 95% dos casos atendidos por ela estão em um momento de estresse, com algum tipo de conflito familiar, que geralmente acontece por conta da procrastinação do início do processo sucessório, algumas vezes sob a alegação de que os pais ainda são jovens para tal procedimento. “Mas isso pode chegar a um ponto onde a família é obrigada a realizar a sucessão”, afirma.

Os conflitos são muitas vezes inevitáveis, afinal, interesses e opiniões distintas quase sempre geram momentos de discordâncias, mas que precisam ser contornados com diálogo entre os envolvidos e auxílio profissional em determinadas situações. A consultora Mariely Biff aponta casos de centralização exagerada por parte do atual gestor. Tarefas não são delegadas e não há confiança de quem será sucedido em relação ao sucessor. “Isso gera sensação de não pertencimento por parte dos filhos”, afirma.

Outro obstáculo na sucessão, de acordo com Mariely, é o conflito de interesses entre os membros da família por conta de não haver a separação entre a vida familiar e a profissional. “Nesses casos as tratativas acontecem de pai para filho e não de líder para colaborador, e quando essas emoções estão envolvidas o processo se torna mais difícil, mas não impossível”, salienta Mariely.

O respeito à hierarquia é outro ponto abordado por Mariely, e segundo ela, precisa ser praticado para que o processo de sucessão ocorra corretamente. “Ouço pais dizerem: meu filho não está tão envolvido no negócio, chega a hora que quer no trabalho. Ele não entende que precisa ter responsabilidade”, revela.

Em contrapartida, a especialista afirma que é comum ouvir os filhos dizerem que não são ouvidos nem têm a oportunidade de implantar projetos por conta do pai ser centralizador. “Quando conseguimos entender o nosso universo dentro do negócio e da fazenda a gente consegue, sim, colaborar”, explica Mariely.

Para a profissional, o sucessor precisa começar a demonstrar interesse e participar de todas as atividades da fazenda, mesmo quando aquilo não for interessante para ele.

Para superar a falta de confiança do atual gestor, muitas vezes em razão da pouca idade do sucessor, Mariely sugere que haja empatia para entender o outro lado, afinal, não é fácil para alguém com muita experiência aceitar grandes mudanças e novos projetos. “Não queira fazer grandes transformações. Comesse pequeno, conquiste confiança e credibilidade entregando resultado”, ressalta.

Também é importante que o sucessor não espere receber conhecimento do atual gestor, é preciso que ele próprio vá em busca desses saberes. “Vão buscar esse conhecimento em outros exemplos, em outros lugares, para entender o que deu certo e errado, e assim entender o risco do negócio para poder evoluir”, afirma.

Para conseguir realizar o processo de sucessão familiar satisfatório é fundamental organizar projetos e reuniões para definir regras através da descrição dos papéis, responsabilidades, salários, organização do patrimônio e a profissionalização da tomada de decisão com percentual. “Se eu quero que alguém comece a ter responsabilidade no negócio, tenho que delegar também, para que essa pessoa sinta o peso da decisão”, explica Mariely.

Segundo ela, em conjunto com o plano de sucessão é preciso tem um plano de aposentadoria para a pessoa que será sucedida. “É também um processo psicológico de preparação que precisa ser pensado”, afirma Mariely.

Além disso, ela salienta a importância de se ter um plano de capacitação familiar para que todos entendam de fato dos negócios e possam contribuir. “Essa capacitação pode acontecer por intermédio de vídeos e outros conteúdos disponíveis na internet, inclusive através de eventos ou palestras onde toda a família pode ir e aprender junta”, ressalta.

Para que a transição ocorra corretamente, Mariely reforça que o processo inicie o quanto antes, mas isso não exige obrigatoriamente a contratação de uma consultoria. “Isso pode começar com pequenos ajustes para melhorar as tomadas de decisões e o planejamento, por exemplo, para que aos poucos o processo evolua”, menciona.

 

Fonte: O Presente Rural

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