O protagonismo da pecuária no Brasil: Produtividade que impulsiona a economia e a exportação
18 de dezembro, 2025
A pecuária brasileira é um componente estruturante da economia e do sistema alimentar do país. Boi, leite, ovos, suínos, aves e tilápia conectam milhões de produtores e trabalhadores e fazem parte de um conjunto de cadeias que trabalham integradas: grãos para ração, genética, sanidade, assistência técnica, indústria de processamento, logística e varejo. Por isso, o desempenho conjunto dessas cadeias afeta emprego e renda regionais, a inflação de alimentos, a segurança alimentar e a geração de divisas.
Esse protagonismo tem-se dado de forma dinâmica no longo prazo no contexto do agronegócio. Nas últimas três décadas, a economia brasileira cresceu em torno de 2,2% ao ano, enquanto a agropecuária avançou perto de 4,6% ao ano – sendo que a agricultura cresceu 4,6 e a pecuária, sozinha, 4,7%. Isso significa que a agropecuária dobra seu PIB a cada 15 anos, enquanto o Brasil, a cada 32 anos. Essa diferença se explica porque a produtividade da economia brasileira cresce, em média, a 0,5% ao ano, enquanto a produtividade da agropecuária avança a 3%, ou seja, seis vezes mais rápido.
Ganhos de produtividade ajudam a entender por que o setor seguiu crescendo apesar de quedas de preços reais. Desde o Plano Real, o aumento de produtividade na agropecuária foi de 28%, levando à queda de aproximadamente 25% nos preços reais no período. Ainda assim, houve uma forte expansão de 170% da produção agropecuária, bem além do que o mercado interno absorveria. A exportação – de cerca de 30% da produção agropecuária – foi a estratégia para evitar uma queda ainda maior de preços e sustentar margens em um setor cada vez mais tecnificado.
Dentro do agronegócio, a pecuária tem dinâmica própria. O crescimento é ligeiramente superior ao da agricultura, mas os preços reais da pecuária vêm avançando 1,7% ao ano, enquanto os de grãos, vêm caindo a -0,5% ao ano. Uma razão para isso é a demanda, pelo fato de a elasticidade-renda ser diferente entre grãos e proteínas animais.
Para grãos, o consumo praticamente não varia com a renda e, para proteínas animais, sim: se a renda aumentar 10%, o consumo de proteínas cresce 4%. Como a renda per capita no Brasil, cresceu cerca de 70% desde 1995, poderá ter havido um aumento no consumo interno per capita de proteínas de quase 30%. Mas é importante notar que há movimentos de substituição entre as proteínas animais, dada as características próprias de cada mercado e também devido à elasticidade preço dos produtos, que ganham competividade com o aumento de escala. Quando o poder de compra enfraquece, ovos, aves e suínos ganham espaço e, em fases de maior renda, a carne bovina, lácteos e tilápia são mais procurados.
Dada a competitividade da pecuária nacional e sua intensa vinculação ao mercado internacional, a expectativa futura é de continuidade de expressivo crescimento do setor, especialmente no comércio exterior. Daí o cuidado extremo que deve ser dedicado à estabilidade cambial. O consumo interno é limitado pelo baixo poder aquisitivo da maioria da população brasileira. Mesmo assim, apesar do lento crescimento do PIB nacional, melhorias, ainda que modestas, no consumo proteico são esperadas à medida que a renda lentamente evolui e os preços se estabilizem com políticas macro e microeconômicas bem conduzidas.
Câmbio e juros são, portanto, dois “botões” macro centrais no tabuleiro. A desvalorização do real tende a elevar a competitividade externa e as receitas em moeda local, reforçando um piso de preços e estimulando exportações; a apreciação cambial costuma reduzir essa atratividade e aliviar o mercado doméstico. Juros altos encarecem capital de giro e investimento e podem reduzir a velocidade de expansão, especialmente em cadeias intensivas em capital e tecnologia. Somam-se a isso choques climáticos e de custos (ração, energia, fretes), que alteram margens e decisões produtivas. Os desafios são inerentes a todas as cadeias e processos, sejam no âmbito econômico, comercial, político ou de produção.
Este pano de fundo macro (crescimento e produtividade, renda, câmbio, juros e inflação) serve como introdução para as seções seguintes, que detalharão o desempenho anual de cada cadeia, mostrando como esses vetores se traduzem em oferta, custos, preços, consumo e comércio exterior ao longo do ano.
Custos e insumos
A queda nos preços de alguns insumos produtivos levou a redução no custo de rações e dietas concentradas. Esse cenário influenciou positivamente a margem de pecuaristas ao longo de 2025, favorecendo sobretudo os sistemas produtivos de não ruminantes – frango de corte e suínos, além dos sistemas nos quais a dieta concentrada representa grande fatia do custo total. Por outro lado, a alta no preço de fertilizantes ao longo da época de entressafra (apesar do recuo do dólar frente ao Real) e nos valores de moléculas importadas da China (como o glifosato) elevaram os custos operacionais de sistemas de forragem, especialmente aqueles com maiores investimentos em reforma e intensificação de pastagens ou produção de feno ou silagem.
Para 2026, a palavra é cautela. A dinâmica será marcada por tensões que podem gerar volatilidade de preços. Para rações e concentrados, o custo será ditado pelo balanço entre a sinalização de uma boa oferta doméstica de grãos e o consumo nacional de óleo de soja – que impacta na oferta de farelo –, pela oferta sul-americana de soja e pela demanda externa pelo farelo de soja. Já no mercado de fertilizantes e defensivos agrícolas, as incertezas estão relacionadas à China, às possíveis restrições de oferta e à maior volatilidade de preços das moléculas usadas nos sistemas de pastagens. Soma-se a isso um ano de eleições no Brasil, que costuma trazer maior volatilidade para o câmbio.
Os preços reais do milho operaram em patamares inferiores aos de anos anteriores em parte de 2025, contexto que, no geral, favoreceu o poder de compra de pecuaristas, mesmo diante das desvalorizações de seus produtos finais. Para 2026, a disponibilidade interna de milho deve ser recorde devido aos amplos estoques iniciais previstos para fevereiro/26, cenário que pode resultar em quedas nos preços do cereal e favorecer o poder de compra do pecuarista.
Pecuária de Leite
2025 começou bem, mas o excesso de oferta e de importados derrubaram os preços a partir do 2º tri – comprimindo margens e colocando o setor em “modo defensivo”. Na parcial do ano (jan-out), o preço ao produtor caiu 3,5%, mas a queda foi ampliada para 4,4% no 2° tri, 11,4% no 3°tri e 19,2% no 4°tri (projeção Cepea). O poder de compra do pecuarista frente ao milho diminuiu em 13,7%. A indústria também amargou desempenho ruim, sobretudo nos 3° e 4° trimestres, com aumento de, em média, 9% no spread entre leite cru, UHT, muçarela e leite no período.
Em 2026, o cenário é de cautela. Com PIB perto de 2% e oferta de leite cru crescendo de forma mais moderada (entre 2% e 2,5%), os preços podem apresentar menor volatilidade. Porém, os valores iniciam o ano em patamares bem abaixo dos de anos anteriores e só retomam a alta sazonal entre abril e agosto. Custos menores de ração podem impedir quedas bruscas de margens, mas estas serão menores que as observadas em 2024 e no 1° tri de 2025. Oportunidades podem existir, mas exigirão disciplina, gestão e eficiência.

Fonte: CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada





































