Na pecuária leiteira, em constante evolução, a seleção genética desempenha um papel crucial na definição do futuro da produtividade, eficiência e lucratividade dos rebanhos. As abordagens modernas de melhoramento utilizam ferramentas avançadas de seleção para intensificar características desejáveis, melhorar a saúde dos animais e otimizar o retorno econômico. Compreender os princípios da seleção genética e o valor dos índices de seleção é fundamental para tomar decisões de reprodução bem embasadas e com impactos duradouros.

A evolução da seleção genética em bovinos leiteiros

Tradicionalmente, a seleção de bovinos baseava-se fortemente em avaliações visuais, no conhecimento da genealogia e em registros de desempenho. Embora esses métodos tenham contribuído para melhorias genéticas graduais, careciam de precisão na previsão do verdadeiro potencial genético de um animal. O surgimento dos testes genômicos revolucionou o melhoramento genético de bovinos leiteiros, permitindo aos produtores avaliarem o gado no nível do DNA. Por meio da análise de milhares de marcadores genéticos, os produtores agora podem tomar decisões baseadas em dados, com maior precisão e eficiência.

Componentes-chave de uma estratégia de reprodução bem-sucedida

Um programa de melhoramento bem estruturado foca em múltiplos fatores que influenciam o desempenho do rebanho:

1. Controle genético – Compreender as informações genealógicas e manter a diversidade genética garante um progresso sustentável, ao mesmo tempo em que minimiza a endogamia.
2. Adaptação – Características como vigor híbrido, tolerância ao calor, resistência a doenças e comportamento animal contribuem para a resiliência e eficiência geral do rebanho.
3. Métricas de desempenho – Características como produção de leite, fertilidade e saúde são indicadores fundamentais da lucratividade a longo prazo.

Índices em ação

As informações obtidas por meio do teste genômico de fêmeas leiteiras contêm diversos dados. Tentar determinar quais são os pontos fortes e fracos pode rapidamente se tornar algo complexo. Focar intensamente em um número limitado de características pode aliviar essa complexidade, mas dificulta o progresso em áreas que estão fora desse foco.

Na Tabela 1, cada novilha apresenta algumas vantagens em relação à outra. A Novilha A possui maior potencial genético para gordura no leite, devido às suas habilidades previstas de transmissão (PTAs) mais altas para porcentagem de gordura e gordura em libras. No entanto, a Novilha B apresenta potencial genético para maior produção total de leite, com melhor eficiência alimentar. Qual delas traz mais valor genético para a fazenda? Essas informações são suficientes para tomar uma decisão de seleção? É difícil dizer.

A Tabela 2 mostra os PTAs para Contagem de Células Somáticas (SCS), Vida Produtiva (PL), Sobrevivência (LIV), Sobrevivência de Novilhas (HLIV) e Taxa de Prenhez das Filhas (DPR). A Novilha A apresenta potencial genético mais favorável para sobrevivência e fertilidade. A Novilha B é ligeiramente melhor em saúde do úbere e longevidade. Com os dados das Tabelas 1 e 2, fica mais claro qual delas trará mais valor genético? Há outras características que deveriam ser consideradas nesse processo de decisão?

Os índices de seleção genética foram desenvolvidos justamente para ajudar a responder essas perguntas. Os índices utilizam fórmulas matemáticas, atribuindo pesos relativos a uma ampla gama de características, para gerar um único número equilibrado que representa o valor do potencial genético de um animal.

Os índices mais comumente utilizados são os índices de mérito do CDCB (Council on Dairy Cattle Breeding). Esses índices classificam os animais leiteiros com base em seu mérito genético total para características economicamente importantes. Dentro de cada índice, as características recebem um valor em dólares por unidade de habilidade prevista de transmissão (PTA). Esses valores são multiplicados pela PTA de cada característica, utilizando uma fórmula ponderada economicamente, gerando um valor total em dólares que reflete o mérito genético global do animal. Esses índices, ligados à economia, fornecem uma visão muito mais clara de como o potencial genético de um animal contribui para o sucesso de uma operação leiteira. A Tabela 3 mostra os resultados de Mérito Líquido (NM$) e Mérito para Leite Fluido (FM$) para as Novilhas A e B.

Como se observa na Tabela 3, não há uma resposta definitiva sobre qual das novilhas (A ou B) é geneticamente superior. A resposta depende de como o produtor administra seu rebanho e de como o leite é comercializado. Como o nome sugere, o Mérito para Leite Fluido (FM$) atribui maior valor em dólares à PTA para Leite, tornando a Novilha B uma melhor escolha para rebanhos inseridos em mercados orientados pelo preço do leite fluido. Em mercados onde os sólidos do leite (componentes) têm maior peso na formação de preços, a Novilha A é a melhor escolha, como refletido em seu valor mais alto de Mérito Líquido (NM$). Como a lucratividade não depende apenas da produção, ambos os índices também consideram características relacionadas à reprodução, saúde e outras categorias importantes. Isso garante uma visão mais robusta de como os genes de cada animal agregam valor ao rebanho.

O poder dos índices de seleção genética

Os índices de seleção genética oferecem uma estrutura abrangente para a escolha dos animais com melhor desempenho. A variedade de índices disponíveis permite que os produtores selecionem e cruzem os animais mais adequados para atender às suas necessidades específicas. A implementação desses índices resulta em melhorias mensuráveis na eficiência e na lucratividade do rebanho, incluindo:

• Progresso genético otimizado: Ao selecionar consistentemente animais com altos índices, os criadores podem acelerar o ritmo do melhoramento genético, resultando em um rebanho mais eficiente, lucrativo e resiliente.
• Maior resistência a doenças: O avanço genético em características de saúde leva à redução de casos de mastite, claudicação e distúrbios metabólicos, diminuindo os custos veterinários e melhorando o bem-estar animal.
• Longevidade estendida: Vacas selecionadas com base em índices avançados tendem a permanecer produtivas por mais lactações, reduzindo os custos com reposição e aumentando a lucratividade ao longo da vida.

Os índices genéticos são ferramentas indispensáveis para produtores de leite que desejam melhorar o desempenho e a rentabilidade de seus rebanhos. Ao integrar o conhecimento tradicional com os avanços da genômica, os criadores podem tomar decisões mais bem fundamentadas, que proporcionam melhorias sustentáveis. Adotar a seleção genética é garantir um futuro mais promissor para a atividade leiteira, desbloqueando o pleno potencial de cada animal do rebanho. À medida que a tecnologia continua a evoluir, o uso de índices de seleção seguirá como um dos pilares das estratégias bem-sucedidas de melhoramento genético leiteiro.

 

 

Escrito por Victor Predosa

Traduzido pelo Canal do Leite

Fonte: Progressive Dairy