Compreendendo melhor o papel dos tamponantes na dieta de vacas leiteiras
16 de julho, 2025
À medida que a saúde do rúmen ganha protagonismo nos rebanhos de alta produção, os tamponantes voltam a receber atenção renovada por seu papel na estabilização da fermentação, apoio ao consumo e alívio do estresse térmico. Essa é a mensagem de Mike Hutjens, professor emérito da Universidade de Illinois, que recentemente participou do podcast Dairy Nutrition Black Belt para discutir a ciência, o uso e a economia por trás desse aditivo alimentar essencial.
Por que os tamponantes são importantes
Hutjens observa que os tamponantes são mais do que apenas um "seguro" contra a acidose. Eles são fundamentais para maximizar a eficiência microbiana e o desempenho das vacas.
Apesar do uso de tamponantes ser comum nas fazendas leiteiras, muitos produtores ainda não percebem o quão cruciais eles são para o funcionamento do rúmen. Segundo Hutjens, 38% das fazendas americanas incluem tamponantes na dieta, tornando-os o aditivo alimentar mais utilizado na indústria.
“Esse número geralmente se mantém em torno de 40%”, diz Hutjens. “Ano após ano, é consistentemente o aditivo mais popular.”
O que torna os tamponantes tão essenciais?
“Estamos tentando otimizar a fermentação no rúmen”, explica Hutjens. “Essa é a beleza das nossas vacas leiteiras. Os tamponantes ajudam a estabilizar o ambiente ruminal. O que é fundamental, já que de 70% a 80% da energia da vaca vem dos ácidos graxos voláteis produzidos pelos microrganismos do rúmen. Além disso, mais de 60% dos aminoácidos utilizados pela vaca são sintetizados por esses mesmos microrganismos. Se conseguimos manter um rúmen saudável, geralmente teremos uma vaca saudável.”
Os “três grandes” benefícios do uso de tamponantes
Hutjens destaca três razões principais pelas quais nutricionistas e produtores incluem tamponantes nas dietas de vacas leiteiras:
1) Estabilizar o ambiente ruminal: Os tamponantes ajudam a manter um pH ideal no rúmen, o que é especialmente importante ao fornecer dietas altamente energéticas e fermentáveis. Um pH estável favorece a digestão das fibras e a saúde microbiana, resultando em melhor aproveitamento dos nutrientes.
2) Aumentar o consumo de matéria seca: Diversos estudos demonstram que os tamponantes podem estimular o apetite, fazendo com que as vacas comam mais. E maior consumo geralmente significa mais leite.
3) Controlar o estresse térmico por meio de estratégias de DCAD: Especialmente nos meses mais quentes, o manejo da diferença cátion-aniônica da dieta (DCAD) torna-se essencial. Tamponantes que contenham sódio e potássio ajudam a elevar os níveis de DCAD, melhorando a função ruminal e reduzindo os efeitos do estresse térmico.
“Cada vez mais, o DCAD e o estresse térmico são questões importantes no verão”, enfatiza Hutjens. “Buscamos normalmente elevar o DCAD para +300 miliequivalentes por quilo de matéria seca. Isso geralmente envolve uma combinação de bicarbonato de sódio e carbonato de potássio.”
Mas, ele alerta os produtores para não presumirem que climas mais frios estão livres do estresse térmico.
“Tendemos a pensar: ‘Ah, aqui no norte do Meio-Oeste [dos EUA] não há estresse térmico’, certo? Mas isso não é verdade”, afirma. “Cada vez mais, essas vacas de alta produção exigem temperaturas mais baixas. Mesmo pequenos aumentos de temperatura podem ter um impacto significativo.”
Opções de tamponantes: Muito além do bicarbonato de sódio
Embora o bicarbonato de sódio (BS) continue sendo o padrão-ouro, Mike Hutjens incentiva os produtores a conhecerem toda a gama de tamponantes e alcalinizantes disponíveis.
“Alguns são tamponantes verdadeiros, como o bicarbonato de sódio, que tem um pKa de 6,25, exatamente onde você quer que o pH do rúmen esteja”, explica ele. “Outros são alcalinizantes, que ajudam a neutralizar os ácidos, mas não apresentam a mesma curva de tamponamento.”
Ele apresenta um panorama das cinco fontes mais comuns de tamponantes ou alcalinizantes:
1) Bicarbonato de Sódio: O tamponante mais amplamente utilizado e estudado, o BS ajuda a manter o pH do rúmen entre 6,0 e 6,25, ideal para as bactérias digestoras de fibra. Hutjens recomenda incluí-lo a 0,75% da matéria seca total da dieta.
“À medida que as vacas comem mais, será necessário aumentar o BS para manter o equilíbrio adequado”, observa.
2) Sesquicarbonato de Sódio: Uma mistura 50/50 de bicarbonato de sódio e carbonato de sódio, esse ingrediente oferece propriedades tanto de tamponamento quanto de alcalinização.
“Algumas empresas preferem esse produto porque ele pode ter um custo por tonelada ligeiramente menor”, acrescenta Hutjens. “As pesquisas são bastante favoráveis e as taxas de inclusão geralmente são semelhantes às do BS.”
3) Carbonato de Potássio: Geralmente com o dobro do custo do bicarbonato de sódio, é altamente eficaz, especialmente para aumentar o DCAD.
“Estudos na Carolina do Sul mostraram que o carbonato de potássio superou tanto o BS quanto o cloreto de potássio em capacidade de tamponamento”, compartilha.
4) Óxido de Magnésio (Mag Ox): Um tamponante frequentemente utilizado como alcalinizante e fonte de magnésio. Hutjens alerta que seu desempenho depende de fatores como solubilidade, tamanho das partículas e tratamento térmico.
“Há um novo produto de óxido de magnésio vindo da França que promete ser mais estável e duradouro”, destaca.
5) Carbonato de Cálcio: Frequentemente confundido com calcário, o carbonato de cálcio atua mais no trato gastrointestinal inferior do que no rúmen.
“Pesquisas na Universidade de Illinois mostram que ele tem pouca ação no rúmen”, diz Hutjens. “Uma nova versão altamente solúvel, extraída da água do mar na costa da Irlanda, está ganhando destaque para uso em vacas secas, pois não afeta o DCAD.”
Saiba o que você está fornecendo na dieta
Um dos conselhos mais práticos de Hutjens é o alerta para que os produtores verifiquem o que realmente está contido nos pacotes de tamponantes que utilizam.
“A maioria dos produtores vai optar por um produto comercial fornecido por uma cooperativa, empresa de nutrição ou consultor”, afirma. “Mas a pergunta é: o que há nesse pacote de tamponantes? Você pode estar fornecendo 200 gramas, ou cerca de meia libra, mas será que não é só calcário? Isso o tornaria muito barato, mas provavelmente nada eficiente.”
Ingredientes de maior valor, como carbonato de potássio ou bicarbonato de sódio, podem ser mais caros, mas também são mais eficazes na estabilização do rúmen. E, a menos que sejam fornecidos nas quantidades corretas, seus benefícios não serão alcançados.
Hutjens acrescenta que os pacotes de tamponantes também podem conter outros ingredientes, como culturas de leveduras ou alimentos veiculadores. Isso torna ainda mais importante revisar as especificações do produto e solicitar a composição detalhada.
Tamponantes são ferramentas, não soluções temporárias
Embora os tamponantes tenham um papel importante nos programas de nutrição, Hutjens alerta contra o uso deles como um “curativo” para problemas maiores na formulação da dieta.
“Fico preocupado quando alguém usa tamponante para tentar aumentar o teor de gordura do leite”, diz ele. “Geralmente há um problema maior na dieta que precisa ser resolvido primeiro.”
Os tamponantes devem ser utilizados como parte de uma estratégia alimentar abrangente, que favoreça um rúmen saudável, otimize o consumo e ajude as vacas a lidarem com o estresse.
“No fim das contas, se você não sabe o que há no seu pacote de tamponantes, pode até estar economizando dinheiro, mas estará perdendo em desempenho”, conclui Hutjens.
Fonte: Dairy Herd Management
Traduzido e adaptado pelo Canal do Leite
Disponível em: www.dairyherd.com/news/dairy-production/better-understand-use-buffers-dairy-diets