BVD - Diarreia Viral Bovina

BVD - Diarreia Viral Bovina

28 de setembro, 2020

Autora: Marina Pellegrino da Silva 

 

  1. O que é a Diarreia Viral Bovina?

 

A diarreia viral bovina, também conhecida como BVD, em inglês (Bovine Viral Diarrhea) é a doença viral que mais acomete bovinos do mundo inteiro. Tem importância mundial por ser a doença de maior impacto econômico sobre as cadeias de produção de carne e leite, gerado pelas perdas econômicas produtivas e reprodutivas. 

 

Apesar de bastante comum, muitos produtores podem não suspeitar de sua presença entre seus animais, já que ela é conhecida como “doença silenciosa”, sem a observação de sinais clínicos graves, mas gerando grandes prejuízos econômicos. Por isso, é de extrema importância que o produtor mantenha um registro completo das atividades de manejo e produtividade da fazenda, podendo notar mudanças a qualquer momento e suspeitar da presença do vírus em seu rebanho. 

 

  1. Como o vírus pode adentrar o meu rebanho?

 

O vírus da diarreia viral bovina está bastante presente dentro dos rebanhos bovinos, podendo atingir os animais antes ou após seu nascimento. 

 

Sua transmissão pode ocorrer de forma direta pelo contato entre animais saudáveis e animais que carregam o vírus, através de secreções nasais, saliva, lágrimas, urina, fezes, sangue, leite e líquidos fetais; pela passagem do vírus da vaca gestante para o feto através da placenta e; de forma indireta, pela presença do vírus em materiais e equipamentos contaminados, como agulhas, seringas, mamadeiras e cabrestos.

 

A infecção pode ser dividida em dois tipos: transitória e persistente. 

 

A infecção transitória ocorre quando o vírus atinge os animais após seu nascimento e tem menor importância para  a propagação da doença, já que estes animais infectados eliminam o vírus em menor quantidade e por um curto período de tempo (cerca de 14 dias). 

 

O grande problema é a infecção persistente, que ocorre quando uma vaca gestante persistentemente infectada (PI) ou que passou por uma infecção transitória durante o primeiro terço de sua gestação, transmite o vírus para o feto através da placenta, produzindo bezerros persistentemente infectados. Os animais PI podem ser assintomáticos ao nascimento e dificilmente identificados. São eles os responsáveis pela disseminação e manutenção da doença dentro da propriedade, eliminando o vírus em grandes quantidades por toda sua vida.

 

As situações que mais favorecem a transmissão do BVD são o comércio de animais, agrupamento de animais vindos de diferentes rebanhos, contato entre animais domésticos e selvagens e o desconhecimento sobre o status do animal para a presença ou não do BVD em seu organismo. 

 

  1. Quais são os efeitos do BVD sobre a saúde dos animais?

 

De forma geral, o vírus provoca uma doença com sinais clínicos leves e inespecíficos, como febre, redução de apetite e diarreia. Mas não se deixe enganar, seu impacto sobre a produção é grande, reduzindo a produção e qualidade do leite e reduzindo a taxa de crescimento dos animais, que têm dificuldade para ganhar peso. 

 

A doença afeta o desempenho reprodutivo de machos e fêmeas. Nos machos, tem efeitos negativos sobre o sêmen, como redução da densidade espermática e motilidade, aumento de anormalidades espermáticas e hipoplasia testicular. Em fêmeas também provoca redução da fertilidade, com maior taxa de morte embrionária, menores taxas de concepção, abortos ao longo de toda gestação e nascimento de bezerros com defeitos congênitos. 

 

Vacas gestantes infectadas com o vírus podem parir bezerros fracos, com malformações ou bezerros persistentemente infectados, a depender do período da gestação em que a infecção ocorreu. 

 

Os animais PI, que são as fontes de vírus para todo o rebanho, podem nascer fracos ou sem qualquer sinal de infecção, o que dificulta seu reconhecimento sem um teste diagnóstico. São animais com expectativa de vida baixa, com menor taxa de crescimento e mais predispostos a outras doenças.

 

O vírus também provoca uma queda no sistema imune dos animais, tornando-os mais vulneráveis a infecções por outros agentes, facilitando a ocorrência de doenças como mastite e complexo de doença respiratória. A taxa de mortalidade provocada pela doença aumenta quando associada a outras infecções. 

 

 

  1. Por que eu preciso proteger meu rebanho contra esse vírus?

 

A diarreia viral bovina presente no rebanho causa grandes prejuízos econômicos para o produtor, com impacto semelhante a presença de mastite no rebanho. As perdas diretas causada pelo vírus estão relacionadas a queda nas performances reprodutiva e produtiva dos animais. 

 

Do ponto de vista reprodutivo, o vírus causa redução da taxa de concepção no primeiro serviço, perdas embrionárias precoces, deformidades congênitas nos bezerros nascidos, maior intervalo entre partos, abortamentos e nascimento de bezerros natimortos. 

 

Por causar danos no sistema imune, acaba abrindo a porteira para outras infecções, aumentando as taxas de morbidade e mortalidade do rebanho, além de causar queda na produção e qualidade do leite, pelo aumento da quantidade de células somáticas. 

 

O produtor consegue evitar os prejuízos causados pela doença ao ser organizado quanto ao manejo da sua fazenda, fazendo levantamentos e mantendo um registro de seus índices produtivos, sendo de suspeitar da presença da enfermidade rapidamente e implementar testes diagnósticos para identificar o vírus o quanto antes. 

 

A avaliação econômica das perdas causadas pelo BVD é fundamental para visualizar e entender melhor os prejuízos causados pela doença. Os custos com a implementação de medidas para sua prevenção e controle são menores do que o prejuízo gerado pelas perdas com BVD no rebanho, tendo ótimo custo-benefício para a produção. 

 

A eliminação da doença deve ser vista como um investimento, capaz de evitar grandes perdas econômicas a longo prazo. 

 

  1. Como posso proteger meu rebanho?

 

Os programas de prevenção e controle contra a diarreia viral bovina seguem 4 princípios básicos: a identificação de animais PI por meio de testes diagnósticos, a eliminação de animais positivos, a vacinação dos animais e o emprego de medidas de biossegurança e monitoramento constante do status da doença no rebanho. 

 

O primeiro e mais importante passo é a identificação dos animais PI, que são as fontes de infecção e responsáveis pela disseminação e manutenção do vírus. Por isso, o produtor precisa investir em testes diagnósticos confiáveis e de qualidade para identificar estes animais e removê-los de seu rebanho. O teste ELISA é um método simples, rápido, acurado e com ótimo custo-benefício, capaz de identificar os animais PI a partir de amostras de sangue e orelha. 

 

A vacinação dos animais também é uma medida essencial para a prevenção da entrada do vírus na fazenda, sendo um reforço às demais medidas. A vacina escolhida deve ser de ótima qualidade, garantindo uma imunidade ampla e duradoura. A vacinação de animais jovens e em idade reprodutiva é capaz de evitar perdas produtivas e reprodutivas causadas por infecções transitórias e o desenvolvimento de animais PI durante a gestação. 

 

As principais medidas de biossegurança que devem ser empregadas são a quarentena de animais recém comprados, um comércio seguro de animais, buscando sempre conhecer o status de um animal recém adquirido para a presença de BVD através de testes laboratoriais, evitar a entrada de vacas gestantes com status de BVD desconhecido, realizar a limpeza de veículos, materiais e equipamentos e seguir boas práticas de manejo e higiene dentro da propriedade. 

 

É fundamental que um monitoramento constante seja empregado a longo prazo, sendo capaz de detectar animais PI que possam ter escapado da etapa de identificação e eliminação e possíveis reinfecções na propriedade, causadas por protocolos inadequados de biossegurança.  

 

Referências 

 

YARNALL, Matt J.; THRUSFIELD, Michael V. Engaging veterinarians and farmers in eradicating bovine viral diarrhoea: a systematic review of economic impact. The Veterinary Record, v. 181, n. 13, p. 347, 2017.

 

WRATHALL, A. E.; SIMMONS, H. A.; VAN SOOM, Ann. Evaluation of risks of viral transmission to recipients of bovine embryos arising from fertilisation with virus-infected semen. Theriogenology, v. 65, n. 2, p. 247-274, 2006.

 

RICHTER, Veronika et al. A systematic worldwide review of the direct monetary losses in cattle due to bovine viral diarrhoea virus infection. The Veterinary Journal, v. 220, p. 80-87, 2017.

 

READ, Andrew J. et al. Prolonged Detection of Bovine Viral Diarrhoea Virus Infection in the Semen of Bulls. Viruses, v. 12, n. 6, p. 674, 2020.

 

PETERHANS, Ernst et al. Cytopathic bovine viral diarrhea viruses (BVDV): emerging pestiviruses doomed to extinction. Veterinary research, v. 41, n. 6, p. 44, 2010.

 

 

LANYON, Sasha R. et al. Bovine viral diarrhoea: pathogenesis and diagnosis. The Veterinary Journal, v. 199, n. 2, p. 201-209, 2014.

 

EVANS, Caitlin A. et al. Global knowledge gaps in the prevention and control of bovine viral diarrhoea (BVD) virus. Transboundary and emerging diseases, v. 66, n. 2, p. 640-652, 2019.

 

LAUREYNS, Jozef; RIBBENS, Stefaan; DE KRUIF, Aart. Control of bovine virus diarrhoea at the herd level: Reducing the risk of false negatives in the detection of persistently infected cattle. The Veterinary Journal, v. 184, n. 1, p. 21-26, 2010.

 

BVD Zero. Disponível em: https://www.bvdzero.com. Acesso em 01 set. 2020. 

 

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