Abraleite buscando abrir a porteira das exportações brasileiras de lácteos

Abraleite buscando abrir a porteira das exportações brasileiras de lácteos

05 de fevereiro, 2022

Escrito por Marcelo de Paula Xavier

A cadeia produtiva do leite tem grande importância para o Brasil, pois gera mais de 5 milhões de empregos somente na produção primária e, de modo geral, em torno de 20 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos, no campo e na cidade. Porém, o quadro atual é de grande dificuldade para os produtores de leite, que vem tendo suas margens corroídas por um brutal aumento nos custos de produção em descompasso com suas receitas.

Com os transtornos causados pela pandemia, principalmente a perda de poder aquisitivo dos consumidores, não se vislumbra uma melhora significativa da demanda por lácteos no mercado interno. Mas, uma janela de oportunidade se abriu para a exportação de produtos brasileiros. Uma combinação de câmbio elevado, preços internacionais batendo recordes, queda generalizada na produção de leite em países exportadores traz um cenário favorável para a comercialização de produtos lácteos no mercado internacional.

Segundo Geraldo Borges, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), “o momento aqui no Brasil é muito delicado. O produtor está há 6 meses tendo quedas consecutivas no preço do seu leite e aumentos drásticos no seu custo de produção. E uma das maneiras de podermos trazer um melhor equilíbrio para o nosso mercado interno é justamente tornando a nossa cadeia láctea mais exportadora.”

Apesar de ainda exportarmos muito pouco, nossas exportações de lácteos vem crescendo e as importações se reduzindo nos últimos 6 meses. No entanto, para ele, é preciso que se aumente muito a escala de nossas vendas externas, de modo a se trazer mais estabilidade para a cadeia produtiva do leite nacional. Entraves para isso existem, é claro! Logística ruim, burocracia insana, impostos em cascata, legislações toscas e regulamentações desmedidas minam a competividade de nossas empresas.

Na atual gestão do presidente Bolsonaro, 20 plantas industriais brasileiras foram habilitadas para exportar produtos lácteos. No final do ano passado, a cooperativa CCGL fez uma primeira exportação para a China – uma espécie de teste. E, agora, está se preparando para uma nova venda internacional.

Em entrevista ao Agro Mais, o presidente da Abraleite comentou sobre as dificuldades para a efetivação das exportações brasileiras: “Nós temos entrave por logística, dificuldade inclusive com containers, nós temos dificuldade de embalagem, dificuldades de taxa de internacionalização do leite brasileiro na China.”

Ele fez uma comparação com a Nova Zelândia, país que está bem mais próximo da Ásia e que tem uma logística muito mais barata que a brasileira. Os produtos lácteos neozelandeses pagam uma taxa em torno de 5% para serem internacionalizados na China e tem, inclusive, algumas cotas zeradas. Ou seja, a Nova Zelândia tem “condições de mandar uma quantidade de leite em pó e outros produtos lácteos sem nenhuma taxação. E o Brasil está pagando 10%”, explica Geraldo.

Oportunidades na China

A Abraleite participou – com outras organizações representativas do setor – de uma reunião junto ao Ministério da Agricultura (MAPA), para solicitar um suporte nas exportações de lácteos para a China, especialmente em relação às dificuldades enfrentadas pela CCGL. As conversas foram feitas com o embaixador Orlando Ribeiro, da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SRI), e sua equipe. Foi solicitado um apoio, através da ministra Tereza Cristina, para que o governo federal se empenhe na melhoria das condições para exportação de lácteos brasileiros.

Geraldo Borges comenta que é necessária uma ajuda governamental para que se faça uma desburocratização, principalmente no que tange à rastreabilidade dos produtos, que está relacionada a questões sanitárias exigidas pelos países asiáticos. Além disto, é preciso que se tenha uma certa igualdade na questão da taxação de 10% para se colocar os produtos brasileiros na China, senão a competição se torno muito difícil.

"A equipe da SRI prontamente entendeu nossas demandas e já está estudando e trabalhando para tentar resolver as questões de relações internacionais. Precisamos tentar fazer com que esses 10% da taxa de internacionalização do leite em pó brasileiro seja zerada", pontua o presidente da Abraleite.

Ele entende, por outro lado, que um bom caminho para o Brasil melhorar sua balança comercial de lácteos é trabalhar em conjunto com os principais países produtores da América do Sul, Argentina e Uruguai, de forma a buscar melhores condições de negócio para todos. "Cabe inclusive uma negociação brasileira em bloco, para facilitar que nós consigamos fazer com que esses 10% da taxa de internaciolização do leite em pó brasileiro seja isentada. Está sendo estudado, em conjunto com outros dois países produtores de leite da América do Sul, Uruguai e Argentina, para que possamos inclusive exportar juntos para a China", afirma ele.

Essa ideia é compartilhada pela ministra Tereza Cristina (da Agricultura), que entende a necessidade de se trabalhar as exportações de lácteos em bloco, para que o Brasil consiga abrir mercados e ampliar o rol de oportunidades para o escoamento dos produtos brasileiros, evitando surtos (mesmo que temporários) de importações da América do Sul, o que causa grandes transtornos para a cadeia produtiva do leite nacional.

“A gente sabe que é cíclico e que essas importações de lácteos do Mercosul sempre prejudicam o Brasil quando elas são praticadas com surtos de importação", continua Geraldo Borges, "então, se nós tivermos em bloco exportando para fora, para a China por exemplo que é um grande país consumidor e que está em ampla expansão de consumo, nós teremos mais sucesso aqui com nossa cadeia produtiva do leite, evitando esses transtornos cíclicos e anuais que a gente sempre teve.”

Papel da Abraleite

Apesar de ser ainda muito nova, a Abraleite já se firmou como a grande voz unificadora dos anseios do setor no Brasil, principalmente representando os mais de 1 milhão de produtores de leite, espalhados por quase a totalidade dos munícipios brasileiros. Fundada em 2017, a entidade adquiriu uma grande envergadura e hoje é chamada a sentar em todos os fóruns importantes que discutem políticas e ações para o setor, tanto na esfera pública como privada.

Desta forma, a Abraleite tem um papel muito importante a desempenhar, unindo a cadeia em torno de temas importantes para todos os elos, fazendo com que os interesses comuns se sobreponham aos conflitos internos existentes. Além disto, a entidade deve liderar as conversas com os diversos orgãos governamentais, para que se consiga inserir a cadeia brasileira do leite nos mercados internacionais de forma efetiva.

É preciso que se aumente significativamente os volumes de exportação de produtos lácteos brasileiros, que ainda são muito inexpressivos frente nossa produção. Mais que isto, é urgente que se aproveite o clima favorável para as vendas ao mercado externo.

A janela de oportunidades, que se abriu, para a exportação de lácteos brasileiros não pode ser desperdiçada. Esse tema é de grande importância para o setor e a Abraleite, com a liderança firme do seu presidente, deve seguir norteando as conversas e ajudando a gestar as soluções!

  • Como a vaca Jersey evoluiu para se tornar um fenômeno global

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Como a vaca Jersey evoluiu para se tornar um fenômeno global

  • Últimas vacas Jersey classificadas EX-96 e EX-97 nos Estados Unidos

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Últimas vacas Jersey classificadas EX-96 e EX-97 nos Estados Unidos

  • Raça Jersey quebra a barreira das 1.000 libras de gordura nos EUA

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Raça Jersey quebra a barreira das 1.000 libras de gordura nos EUA

COMPARTILHAR

CONTEÚDOS ESPECIAIS

Proluv
Top