O Sistema de Compost Barn

O Sistema de Compost Barn

25 de junho, 2021

O compost barn é uma instalação que consiste em um barracão coberto para o alojamento das vacas de leite, onde se coloca uma cama – geralmente – de serragem ou maravalha. O principal objetivo do sistema é garantir o conforto dos animais e a compostagem do material da cama, que será usado como adubo.

  Compost barn na Chácara Recanto dos Passarinhos (Piraí do Sul - PR)

O compost barn teve início em meados dos anos 80, nos EUA, mais especificamente no estada da Virgínia. O sistema foi desenvolvido por produtores e derivou do bedded pack ou sistema de cama sobreposta, onde a mesma serve como uma barreira física entre o esterco e a vaca.

O método se baseia na ação de microrganismos, os quais utilizam a matéria orgânica como substrato, e visa reduzir custos de implantação e manutenção; melhorar índices produtivos e sanitários dos rebanhos; e possibilitar o uso correto de dejetos orgânicos provenientes da atividade leiteira.

O processo de compostagem consiste na produção de dióxido de carbono (CO2), água e calor, a partir da fermentação aeróbia da matéria orgânica. No compost barn, as fezes e a urina das vacas fornecem os nutrientes necessários (carbono, nitrogênio, água e microrganismos) para que ocorra o processo de compostagem. O oxigênio usado na compostagem é proveniente da aeração diária que deve ser realizada na cama.

O sucesso do processo de compostagem depende da manutenção de níveis adequados de oxigênio e água, bem como da temperatura, da quantidade de matéria orgânica e da atividade dos microrganismos, que devem produzir calor suficiente para secar o material e reduzir a população de patogenos. Para que esse processo ocorra, a temperatura deve variar de 54º a 65ºC, a 30 cm da superfície da cama.

Manejo da cama

Para que a compostagem funcione de maneira adequada, deve-se introduzir oxigênio na cama. Isto é feito realizando-se o revolvimento diário da mesma, seja com o uso de um escarificador ou com uma enxada rotativa acoplada a um trator.

É muito importante que durante a escarificação se consiga atingir uma profundidade de 25 a 30 centímetros, podendo chegar até 40 centímetros. Vale ressaltar que a terra abaixo da cama não deve ser tocada pelo escarificador, porque qualquer mistura de terra com cama pode criar um adobe e, com isto, vai ocorrer uma compactação da cama.

É necessário, também, que o escarificador seja largo o suficiente para cobrir o rodado do trator. Desta forma, garante-se o revolvimento da cama atrás da roda e a não compactação da área coberta pela mesma. 

   Cama no compost barn

Vantagens do Compost Barn

O sistema vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil, exatamente porque ele traz uma série de vantagens. A última pesquisa Top 100 MilkPoint mostra que – quanto ao alojamento das vacas – as propriedades participantes do estudo optam principalmente pelo free stall (47%), seguido do compost barn (27%).

Um estudo realizado nos Estados Unidos avaliou este sistema de instalações quanto ao conforto e longevidade dos animais. Foram estudadas 12 fazendas leiteiras que adotaram o sistema de compost barn, com o objetivo principal de proporcionar conforto animal, aumentar a longevidade das vacas e melhorar a facilidade de manejo que está associada ao sistema.

Os resultados desse estudo, desenvolvido pela Universidade de Minnesota, indicaram algumas mudanças em relação ao conforto e o impacto na produtividade e longevidade dos animais:

  • Redução de problemas de casco, pois as vacas têm mais espaço, o que permite maior liberdade de movimento tanto para se locomover quanto para deitar. Além disso, mesmo quando em pé, as vacas permanecem sobre uma superfície mais macia que o concreto. Um pesquisa no estado de Minnesota demonstrou uma porcentagem de 7,8% de vacas com problemas de casco em propriedades com compost barn, contra 19,6 a 27,8% em propriedades com free-stalls;
  • Maior facilidade de manifestação de cios com a melhoria na sanidade dos cascos, as vacas mostram mais cios, melhorando a sua taxa de detecção. Na mesma pesquisa, em Minnesota, as taxas de detecção de cio aumentaram de 36,9% para 41,4% e as taxas de concepção aumentaram de 13,2% para 16,5%, quando vacas foram deslocadas do free-stall para o compost barn;
  • Melhoria da qualidade do leite, com redução da CCS e da incidência de mastite. Este fato pode ser explicado tanto pela redução de mastite ambiental (com a redução da carga microbiana na cama), como pela melhoria da condição de higiene das vacas antes da ordenha e, ainda,  pela melhoria no sistema imune dos animais promovida pelo ambiente mais confortável;
  • Baixo custo inicial de investimento para a construção do compost barn, quando comparado ao custo de construção de um galpão tipo free-stall;
  • Outro fato interessante proporcionado pelo compost barn é a redução do acúmulo e descarte de dejetos, o que diminui os custos para armazenamento, o espaço e a mão-de-obra necessários, em comparação com sistemas de free-stall.

Saúde da glândula mamária no sistema

Quando o compost barn foi introduzido no Brasil, muitas pessoas duvidavam que seria possível para as vacas terem uma saúde de glândula mamária tão boa neste sistema quanto no free stall. Entretanto, diversos trabalhos americanos têm mostrado que os dois sistemas são parecidos quanto ao número de células somáticas e incidência de mastite dentro do rebanho. Dessa maneira, pode-se afirmar que as vacas em um compost barn bem manejado são tão limpas quanto em um bom free stall

O estudo abaixo comparou animais alojados em compost barn e animais alojados em free stall com camas de areia. Nele, ficou evidenciado que os rebanhos - em qualquer um dos sistemas - podem ter células somáticas em níveis extremamente baixos. Além disso, a incidência de mastite foi a mesma nos dois sistemas, demonstrando que o compost barn pode ser tão bom para a saúde da glândula mamária quanto um free stall bem manejado.:

Outro trabalho comparou fazendas de free stall e tie stall que fizeram a transição para compost barn e mostrou que diversas delas tiveram uma melhora expressiva nas células somáticas, sendo que em apenas uma fazenda a contagem de células somáticas do rebanho aumentou.

Ainda no mesmo trabalho, avaliou-se a prevalência de mastite; isto é, vacas com mais de 200.000 células somáticas por ml. Como se pode ver pelo gráfico abaixo, na grande maioria das fazendas, houve uma diminuição na prevalência de mastite:

As fazendas no Brasil que introduziram o compost barn tiveram um decréscimo na incidência de mastite e na CCS do rebanho. Isto acontece principalmente porque a principal vantagem do sistema é o calor, que é o que faz a cama secar. A cama seca garante vacas limpas e, por sua vez, o começo de uma boa ordenha. Não obstante, todo o manejo de ordenha e os cuidados com as vacas devem ser mantidos no compost barn.

Erros frequentes no manejo do compost barn

  1. Tentativa de economia de energia - Optar por não deixar os ventiladores ligados durante todo o dia - para reduzir custos - ligando-os apenas nos períodos mais quentes, deixará a cama mais úmida, aumentando a ocorrência de mastite. Isto acontece pois quando a umidade da cama aumenta, o material da cama adere-se à pele e ao orifício do teto, facilitando a entrada de bactérias pelo canal do teto;
  2. Alimentação das vacas dentro do composto - Quando as vacas se alimentam em cima da cama, é muito difícil manter este espaço seco. Muitas vezes, as vacas acabam deitando próximas ao cocho e tendo contato novamente com a umidade, aumentando a probabilidade de infecções intramamárias;
  3. Frequência de reviragem da camaAlguns produtores, por falta de trator ou um manejo deficientre na fazenda, reviram a cama 1x por dia ou 1x a cada dois dias. Por consequência, o processo de compostagem fica comprometido e o teor de umidade da cama aumenta (mesmo com uso de ventiladores). Por isso, é aconselhável revirar a cama pelo menos 2x ao dia, garantindo assim um processo de compostagem homogêneo, facilitando a perda de umidade para o ambiente e fazendo com que a cama fique mais seca. Lembrando que, ao revirar a cama, é importante atingir as camadas mais profundas do composto. Se a cama tem 50 cm de altura, por exemplo, deve-se revirar de 35 a 40 cm de profundidade;
  4. Falhas na instalação - Tais como: pé direito baixo, poucos ventiladores (não abrangendo toda a área de cama), inclinação incorreta dos ventiladores (perdendo a eficiência de ventos), entre outros. Em ambientes que acontecem essas falhas, o rendimento do sistema será prejudicado.

 

Fonte: Educa Point

 

Jersey Recanto dos Passarinhos - Conforto animal, conhecimento e paixão na produção leiteira PGM#36

 

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