Classes de leite nos EUA: um resumo do mercado americano de lácteos
24 de março, 2019
Escrito por Marcelo de Paula Xavier*, M.Sc.
As regulamentações para o preço do leite ao produtor no mercado americano são meio complicadas. O sistema de regulação chamado de “Ordens Federais de Comercialização de Leite” (FMMO1, na sigla em inglês) utiliza fórmulas, para o cálculo dos preços do leite, baseadas nos produtos finais.
Assim, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estabelece um preço mínimo que as indústrias (“handlers”) são obrigadas a pagar para os produtores, a cada mês, de acordo como o leite que elas captam é usado.
As duas principais características do sistema FMMO são os preços classificados (“classified pricing”) e o pool do leite por região. Os produtores em uma determinada área geográfica compartilham as receitas de todas as vendas de leite agrupadas (pool) em uma “Ordem Federal”.
Em resumo, os preços mínimos regulamentados do leite refletem as fórmulas de preços dos produtos finais e a participação de cada fazenda no pool de compartilhamento de receitas.
Classes de leite e as Ordens Federais de Comercialização
Em 2019, quase 134 bilhões de libras de leite – a maior parte do leite americano – foi produzido dentro das Ordens Federais (FMMO). Um aspecto importante deste sistema de preços é que o leite tem um valor diferente dependendo de como ele é usado na indústria.
Aqui está um resumo das "classes de leite” nas "Ordens Federais" e o leite produzido dentro delas2:
- Classe I (leite fluido): Leite fluido para beber. Em 2019, 43,9 bilhões de libras (19,9 bilhões de litros) de leite foram usadas nesta Classe (28,04% da produção total do ano);
- Classe II (produtos soft): Sorvete, iogurte, queijo cottage, coalhada. Em 2019, 17,9 bilhões de libras (8,1 bilhões de litros) de leite entraram nesta Classe (11,48% do total);
- Classe III (queijo e soro): Maioria dos tipos de queijo e soro de leite (whey). Em 2019, 64,2 bilhões de libras (29,1 bilhões de litros) de leite foram utilizadas nesta Classe (41,01% do total);
- Classe IV (manteiga e produtos secos): Manteiga e leite em pó. Em 2019, 30,5 bilhões de libras (13,8 bilhões de litros) de leite foram utilizadas nesta Classe (19,47% do total).
Os preços das "classes de leite" garantem que as plantas processadoras nos EUA recebam uma avaliação pelo uso dos produtos que fabricam. As indústrias que vendem produtos finais com preços mais altos pagam mais pelo leite cru e os que vendem produtos menos caros pagam menos. Esta ideia surgiu durante a década de 1930, quando o leite fluido representava quase dois terços da demanda do leite americano. Para garantir que a alta demanda fosse atendida, o sistema de classificação estabelecia preços mais altos para leite fluido e preços decrescentes para o leite destinado a outros produtos.
Preços e pool do leite
Fórmulas baseadas em preços médios de produtos lácteos definem o preço para cada uma das classes de leite dentro das “Ordens Federais”. Variáveis diferentes conduzem os preços em cada classe.
O leite destinado à utilização da Classe I é submetido à menor quantidade de processamento antes da venda, mas seu preço é calculado por meio de uma fórmula orientada pelos preços das outras classes mais processadas. O preço da Classe I para um determinado mês é anunciado antes do início desse mês.
Os preços nas classes II, III e IV são estabelecidos com base nos preços médios dos produtos produzidos nestas classes (manteiga, queijo, soro e leite desnatado). Estes preços são anunciados no mês seguinte, de modo que os processadores de leite das Classes II, III ou IV só saberão quanto deverão pagar pelo leite in nautura no mês seguinte ao seu recebimento.
O conceito de se fazer um "pool" é questão fundamental para a redução da volatilidade. O sistema determina que produtores individuais associados às “Ordens Federais” ou “Estaduais” sejam pagos com base no preço ponderado de todo o pool de leite.
Desta forma, os produtores que participam do sistema se beneficiam coletivamente das receitas de todo o leite vendido, em vez de alguns ganharem mais e outros ganharem menos, em função do tipo de planta processadora para qual entregam seu leite.
O pool garante, também, um campo de atuação mutuamente benéfico para as plantas processadoras dentro da "Ordem Federal". Este arranjo mantém o equilíbrio dos laticínios nas regiões para quando o uso da Classe I é baixo, fornecendo suporte de preços para as fábricas ao longo do ano.
Para finalizar, ressalta-se que, embora os proprietários dos laticínios devam seguir regras mínimas de pagamento (em geral, os produtores devem receber pelo menos o preço do pool menos uma taxa razoável pelo transporte), as cooperativas estão isentas dessas regras.
Notas:
1 – FMMO é a sigla para Federal Milk Marketing Orders (Ordens Federais de Comercialização de Leite, em uma tradulçao livre).
2 – Esses totais de produção refletem apenas o leite vendido dentro do sistema de Ordens Federais. De acordo com o Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas (National Agricultural Statistics Service), em 2019, um adicional de 61,9 bilhões de libras (28 bilhões de litros) de leite foi vendido fora do sistema de Ordens Federais nos EUA.
Fontes: USDA e Dairy Products Merchants
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*Marcelo de Paula Xavier, formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi presidente da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil por 2 mandatos consecutivos e atualmente é editor do Canal do Leite.